Sigo impactada pelas mortes das crianças em Blumenau na semana passada. Quando o fato ocorreu eu estava em meio às crianças, também numa escola infantil que também corriam pelo pátio. Crianças da mesma idade que se misturavam ao sol de outono. Um dos pequenos me chamava para ver um besouro, tão comuns nesta estação, impressionado com a corpulência do inseto. Atravessamos uma manhã entre sorrisos, brincadeiras, escorregador e passarinhos cantando. Ali, naquele lugar preservado, as crianças ensaiam seus primeiros equilíbrios. Se desafiam na conquista do espaço dentro do grupo. Lidam com a frustração de se verem separados, mesmo que por apenas algumas horas, das pessoas queridas, que precisam trabalhar. Aprendem a nomear os afetos. Compreendem os sentimentos. Desenvolvem a capacidade de formar vínculos e acima de tudo, descobrem que podem sonhar. É nas brincadeiras protegidas que nossas crianças se lançam ao futuro. Um futuro que se mistura ao azul do céu, ao verde da natureza ao redor e nos braços acolhedores de quem escolheu a educação como meio de vida.
Não há como não nos afetarmos diante do ocorrido. Onde foi que erramos ao permitirmos que tragédias como essa se tornem cada vez mais comuns? Não há esperança na barbárie. Fiquei e tenho certeza que muitos como eu, ficaram paralisados diante da cena traumática que tomamos conhecimento. É difícil dizer algo quando há dentro uma mistura de afetos e sentimentos que nos confundem, mas é preciso que encontremos palavras para tentar entender esse inominável horror. Esquecer e silenciar é também tornar-se cúmplice dessa atrocidade.
O jornalismo brasileiro se viu tendo de mudar sua conduta diante do ocorrido. Já era tempo. É preciso que se fale do fato e se entenda o que leva um sujeito a cometer tamanha crueldade, mas chega de dar espaço para o criminoso. Há criminosos que se alimentam deste culto à destruição. É preciso que também nós, leitores e consumidores de informação, paremos de passar adiante qualquer tipo de mídia que apresente fotos ou detalhes de quem era a pessoa que cometeu o assassinato, como forma de conter a espetacularização do horror. Estudiosos da comunicação mostram que é preciso parar de dar visibilidade a essas pessoas, pois o que elas desejam é serem vistas e reconhecidas. É preciso que a ética exercida dentro dos veículos sérios seja replicada em nossas ações cotidianas. Essa é uma luta de todos nós.
É preciso que todos nós busquemos urgentemente implementar uma cultura de paz em nosso país. Uma cultura de respeito às diferenças, empatia, solidariedade. Não é possível respirar dentro do ódio. Escrevo essa crônica em pleno domingo de Páscoa e acendo uma vela para as mães e os pais das crianças de Blumenau, para as crianças, para as educadoras, para outras tantas crianças feridas, para as que sobreviveram, para as famílias. Presenciamos outra tragédia. Outra escola.
Precisamos olhar para os inícios se desejamos que os dias sejam menos sombrios.