As pessoas que me são mais próximas costumam me dizer que sou “dedo verde”, afinal, vivo em meio ao verde e tudo que me cai em mãos, dou um jeito de fazer viver. Mas não sei dizer se mereço esse adjetivo. Na verdade, penso, não existe isso de ser “dedo verde”. O que existe é a capacidade de preocupar-se com o outro, seja ele um ser humano ou vegetal. Amo plantas e sim, quase tudo que planto nasce, exceto quando mato as plantas por excesso, principalmente de água, mas tenho me corrigido neste sentido. Para plantar não existe segredo algum além de paciência e observação. Já disse aqui antes, é como cuidar de pessoas. Paciência e observação. Dois elementos que vêm acompanhados da necessidade de aprendermos a olhar mais de perto para o desenvolvimento da futura planta. Ver os estágios de seu amadurecimento, seus períodos de seca, de necessidade de sol, de carência orgânica e sempre uma dose extra de conversa. Sim, as plantas como as pessoas amam uma boa conversa. Quem não gosta de poder ouvir e ser ouvido? É da natureza, está dentro de todos nós. Todos não, me corrijo a tempo. Há pessoas que nasceram para ser calçadas. Queimam, quase fritam no sol diário e não se dão conta de que ao se exporem em demasia se machucam. Sem refúgio ou sombra, se mostram mais do que desejariam. Sim, porque também somos o modo como nos relacionamos com o meio ambiente. Há pessoas que decepam as árvores como se elas fossem inimigas. Cortam sem dó e menos ainda técnica, com intuito de livrar-se do incômodo de tê-las atrapalhando sua visão. Gente munida de apetrechos que destrói qualquer forma de vida sem ao menos ponderar sobre a possibilidade de conviver com elas.
Caxias do Sul é uma cidade que tem dificuldades com relação às árvores. Uma vez, muito tempo atrás, quando ainda trabalhava em TV, conversei com a professora Loraine Slomp Giron, historiadora. Perguntei-lhe por que o caxiense tinha tanta raiva de árvores. Lembro que ela riu e me devolveu a pergunta, interrogando, raiva? Respondi sim, raiva, porque as árvores não são apenas podadas em nossa cidade, elas são decepadas. Parece que o sujeito com raiva do mundo se joga sobre a planta e a corta da maneira mais primitiva possível. Ela disse que a minha leitura empírica fazia sentido. Afinal, as árvores e a natureza em si carregam consigo uma insígnia de medo e perigo. Como se atrás, em cima ou dentro de uma árvore existisse um ser mais primitivo ainda que em qualquer momento ou situação pulasse para fora e acabasse com o sonho da vida na cocagna. Uma grande falácia, dizia rindo, mas que perdura até os dias de hoje. Talvez isso explique também porque as pessoas dizem que as folhas que caem nas calçadas durante o outono são sujeira.
Presumo que o modo como cada um lida com a natureza fora de si seja um indício de como as coisas acontecem por dentro. O mundo das plantas expõe de modo claro e racional nosso comportamento e, por ele podemos perceber quem realmente é o primitivo e sem cérebro.