Sim, é preciso ouvir a propaganda eleitoral antes de votar. É preciso assistir aos debates antes de se decidir. É preciso conversar de modo a aprender antes de sair ignorando a posição do outro. É preciso nos darmos conta de que nos últimos anos temos ficado mais truculentos em defesa de nossas opiniões. De certo modo, embrutecemos. É preciso, portanto, recuperarmos nossa capacidade de sermos pessoas e não brutamontes. É preciso aprendermos a escutar os discursos, a correlacionar as falas às atitudes, a pararmos de fazer concessões. É preciso que nos posicionemos porque estar em cima do muro só aumenta o cordão da alienação. É preciso aprender a ouvir o tempo em que vivemos, com a serenidade de quem envelheceu e aprendeu algo com a vida. É preciso voltarmos a aprender com os animais a cuidarmos uns dos outros, porque se dependermos somente da nossa inteligência empática estamos mais para destruir, bater, criticar, julgar do que respeitar. É preciso que possamos dar o braço a torcer e a perceber que as flores são muito mais inteligentes do que nós, pois toleram. É preciso que voltemos a aceitar nossa incompletude, afinal nascemos da ausência, basta lembrarmos que viemos de uma cena na qual não estávamos presente. E por mais que possamos recontar a história de como foi que fomos desejados e concebidos, nascemos do desejo do outro. Isso para nos fazer menos onipotentes, pois o desejo do outro nos constitui enquanto sujeitos. (E o não desejo também). É preciso, portanto, que saibamos silenciar diante do inevitável.
É preciso que saibamos aceitar as derrotas. Nem sempre estamos certos nem sempre temos razão. É preciso aprender a calar-se. Às vezes as palavras perfeitas são as não ditas. Palavras (mal) ditas voltam como pedradas e não podemos esquecer que também somos frágeis. Iguais aos de vidro. Quebramos, mas nem todos lembram disso. Leio a poeta argentina Alejandra Pizarnick. A poesia nos ensina que “a rebelião consiste em olhar uma rosa até pulverizar os olhos”. Ter visão, é disso que ela fala. Fala da nossa capacidade de mirar e perceber, de ler o que está dito e de aceitar nosso não alcance, caso sejamos capazes de nos ver de verdade. Isso porque somos muito diferentes do que achamos que somos. E geralmente não somos tão inteligentes, queridos, dedicados, especiais e generosos como pensamos que somos. Mas essa angústia se enfrenta no divã, para quem tem coragem de haver-se consigo. Estes, pelo menos, se permitem pulverizar.
Quando caímos é preciso aprender sobre a pedagogia do chão. Encostar a cara no pó, olhar para cima e perceber que somos infinitamente pequenos diante do mundo, do desejo do outro, da massa que se rebela, da dor que nos invade, da flor que desabrocha e da esperança que tinge a Alvorada.