Adriana Antunes
A cocada de Clarissa chegou embrulhada num papel pardo. Dentro de um pote de mumu estava cortada em pedaços. E o presente me fora entregue em meio a sessão de autógrafos no sábado. Sobre a mesa havia flores, livros, cartões, marcadores de pausas, uma garrafa de água, meu óculos para longe e algumas canetas. Chegou como quem chega para fazer feliz. Me emocionei. Sou uma chorona, desde de o dia em que nasci. Chorei quando saí da barriga de minha mãe e nunca mais parei. Choro de alegria e de tristeza. Choro vendo filmes e propaganda na TV. Choro ouvindo música e o podcast Foro de Teresina. Choro de raiva. Choro cortando cebola. Choro quando leio algo bonito e também quando leio TCC mal escrito. Choro de saudades. Choro quando um broto novo nasce. Choro muito e dependendo da época do mês, choro o tempo todo. Coisa de canceriana, dizem as más línguas. Mas sei que é inveja de meu jeito livre de chorar por tudo e por todos. E quase chorei ali, quando recebi de presente um pote de cocada vindo direto da Bahia. Olhei aqueles pedaços açucarados de uma cor de comer de olhos fechados. E ganhei e já guardei dentro da bolsa. Deus me livre alguém por engano pegar meu presente-doce. A manhã passou voando, entre amigos, afetos, abraços, versos e fotos. Uma alegria só. Depois, em casa, o pote. Clarissa não sabe e talvez a maioria das pessoas não saibam, mas para mim, nada neste mundo pode ser expressão maior de amor do que dar de presente comida. Quando presenteamos alguém com algum alimento estamos dizendo, de certa forma, “viva!”, porque desejar que o outro viva é mostrarmos a importância dele em nossa vida. Admito, coisa de canceriana. E enquanto escrevo, me emociono e como os pedaços de cocada, fechando os olhos e pensando: que o universo te dê, Clarissa, uma vida com mais açúcar que tristeza, com mais doce que perdas, com mais pedaços de alegrias do que solidão.
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