A cocada de Clarissa chegou embrulhada num papel pardo. Dentro de um pote de mumu estava cortada em pedaços. E o presente me fora entregue em meio a sessão de autógrafos no sábado. Sobre a mesa havia flores, livros, cartões, marcadores de pausas, uma garrafa de água, meu óculos para longe e algumas canetas. Chegou como quem chega para fazer feliz. Me emocionei. Sou uma chorona, desde de o dia em que nasci. Chorei quando saí da barriga de minha mãe e nunca mais parei. Choro de alegria e de tristeza. Choro vendo filmes e propaganda na TV. Choro ouvindo música e o podcast Foro de Teresina. Choro de raiva. Choro cortando cebola. Choro quando leio algo bonito e também quando leio TCC mal escrito. Choro de saudades. Choro quando um broto novo nasce. Choro muito e dependendo da época do mês, choro o tempo todo. Coisa de canceriana, dizem as más línguas. Mas sei que é inveja de meu jeito livre de chorar por tudo e por todos. E quase chorei ali, quando recebi de presente um pote de cocada vindo direto da Bahia. Olhei aqueles pedaços açucarados de uma cor de comer de olhos fechados. E ganhei e já guardei dentro da bolsa. Deus me livre alguém por engano pegar meu presente-doce. A manhã passou voando, entre amigos, afetos, abraços, versos e fotos. Uma alegria só. Depois, em casa, o pote. Clarissa não sabe e talvez a maioria das pessoas não saibam, mas para mim, nada neste mundo pode ser expressão maior de amor do que dar de presente comida. Quando presenteamos alguém com algum alimento estamos dizendo, de certa forma, “viva!”, porque desejar que o outro viva é mostrarmos a importância dele em nossa vida. Admito, coisa de canceriana. E enquanto escrevo, me emociono e como os pedaços de cocada, fechando os olhos e pensando: que o universo te dê, Clarissa, uma vida com mais açúcar que tristeza, com mais doce que perdas, com mais pedaços de alegrias do que solidão.
Tenho comido os pedaços aos poucos e para cada pedaço degustado, um desejo. Afinal, Clarissa não sabe e poucos sabem, mas quinta, é meu aniversário. Sou uma canceriana do terceiro decanato com ascendente em leão e lua em aquário. Mas astrologicamente falando, sei apenas isso de mim. Conto isso nessa crônica nada crônica, porque há algumas semana positivei para covid e uma das sequelas que ficou foi a perda do paladar. Tudo o que comia não tinha gosto de nada. Não sentia nada. Que aflição. Daí, no sábado, quando chegou a cocada da Clarissa minhas papilas gustativas se rebelaram. E depois de dias sem sentir gosto de nada, senti o sabor do doce derretendo dentro da boca. Minha alma é movida a essas singelas gentilezas e em antecipando meu aniversário, agradeço ao universo por viver nestes tempos com todos com quem convivo, perto ou mais distante. Afinal, de nada valeria a vida se não tivéssemos com quem compartilhar. Assim, grata aos meus leitores por sempre me lerem, aos amigos que estiveram comigo no sábado, aos meus alunos e alunas que me deram flores (que amo demais) e à Clarissa, que me fez sentir o gosto da vida outra vez, por meio de uma cocada que atravessou parte do Brasil e chegou com tanto carinho. Se for assim, que eu possa viver mais 46 anos.