Adriana Antunes
Dias atrás sonhei que calçava os sapatos trocados. O pé direito no esquerdo e o esquerdo no direito e saía caminhando de uma maneira estranha e com dificuldades. Queria caminhar mas acaba tropeçando em tudo e não conseguia ir adiante. Quando acordei, fiquei pensando sobre. É verdade, esta é a sensação que tenho, talvez vários de nós tenhamos já sentido, de que é preciso parar um pouco. Chegamos na metade do ano. O primeiro semestre foi pesado, puxado. Há uma pressa que nos atropela constantemente. Pressa de trabalho, de realização de desejos, de tirar as máscaras, de vencer na vida, de ser feliz, de nos curar das dores rapidamente. Ouço meus pacientes me dizerem isso, repetidamente, perguntando quando é que vão se sentir melhor e se existe um modo mais fácil e rápido de sarar de suas feridas. Eis a pressa que nos faz calçar os sapatos trocados e tentar andar mesmo assim, sem respeitar nossas dores ou impossibilidades. Então me dou conta de que também entro nessa loucura dos minutos desgovernados, dando conta de um tudo. Mas andar de sapatos trocados é a certeza de machucar-se logo de saída e porque mesmo assim, insistimos? Quando foi que deixamos de ser gentis conosco mesmos e de aceitar que para tudo há um tempo?
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