Não é fácil amar. Eu, você e, de certa forma, todos desejamos amar. Uma boa parte acredita que sabe, aprendeu ao longo da vida, compreende como é o processo, mas na verdade, amar mesmo é complexo, difícil e necessário. Talvez, amar seja uma das tarefas mais urgentes e complicadas de conseguir, pois amar é também desapegar. É. Na teoria a ideia é perfeita, mas no dia a dia, desapegar não é nada fácil. Amar exige que a gente troque de pele, abandone velhas crenças, abra mão das idealizações e principalmente, aceite o outro como ele é. Achamos que sabemos amar, mas surpreendentemente, ao menor sinal, descobrimos que não sabemos nada sobre o amor.
Amar é aceitar a passagem do tempo e as mudanças no corpo da pessoa amada. É aceitar as nossas mudanças. Amar é conseguir brincar com o tamanho da calcinha ou da cueca depois de estar juntos há tanto tempo. É descobrir que não se seduz mais pela cor ou tamanho da peça íntima. E que se você ainda precisa disso para se excitar, talvez você precise estudar um pouco mais sobre o que significa amar. Amar é compreender que talvez seu melhor amigo não acredite em Deus ou tenha convicções políticas diferentes da sua. É aceitar que com o passar do tempo mudamos, ficamos diferentes não só por fora, mas por dentro também, e perceber que isso não rompe o laço de amizade construído há anos. Amar é ter liberdade para colocar o seu ponto de vista e deixar o outro expor da mesma forma, sem que necessariamente alguém precise mostrar que tem a razão. Amar é admitir que somos destreinados para alguns assuntos ou situações, mas que pelo outro, nos permitimos experimentar.
Amar é aprender com a vida e com o que ela te apresenta.
Amar é aceitar que seu filho mais querido não quer seguir o sonho que vocês sonharam para ele. É compreender que cada um é cada um e que cada um tem uma vida única para construir. Mesmo que isso doa em você. Mesmo que vá contra tudo o que você imaginou. Mesmo que isso te faça se calar e refletir, mas sem jamais negar um abraço ou um colo. Porque amar é aceitar um filho que revela desejar amar alguém do mesmo sexo. Você pode se chocar, pode não compreender, pode precisar de tempo para aceitar. Mas jamais vai poder excluí-lo. Quando se é mãe e pai a palavra preconceito é riscada do vocabulário. É preciso amar antes de julgar. É preciso compreender antes de brigar. É preciso se rever enquanto sujeito e ser humano antes de qualquer atitude. É preciso autocrítica, afinal, ninguém é melhor que ninguém, e se você acha isso, é preciso se repensar. Se a sua raiva ou medo do que os outros vão pensar de você e da sua família, é preciso que você reveja, inclusive a sua fé. Se você, de certa forma, sempre aceitou isso com o filho dos outros e agora se abala porque descobre algo semelhante com um filho seu, é preciso que você deixe de ser hipócrita. Se você se recolhe, entristecido e silencioso por saber disso, como forma de culpabilizar o outro, é preciso que você reconheça em si um narcisismo, que coloca tua dor acima da dor que a tua atitude causa no filho.
Amar é complexo, difícil e necessário. Nunca diga que ama se você ainda não aprendeu a amar.