Medo. Raiva. Tristeza. Desamparo. Indignação. Pessimismo. Impotência. Esses são alguns dos sentimentos que me assaltaram a partir das 11h da manhã de sábado ao ver meu pai passar mal e receber o atendimento na Upa Central. Falta de humanidade. Pouca ou quase nenhuma empatia. Desorganização. Falta de comunicação. Falta de informação. Descaso. A Upa Central é um órgão tão doente quanto os doentes que lá chegam. Aos meus leitores semanais, peço escusas por este texto que nada tem de crônica. Na verdade é mais um desabafo pela constatação do quanto somos reféns de um sistema de saúde mal gerido administrativamente aliado a uma velha política de descaso com a saúde da população mais carente. Raramente reclamo de algo, afinal, acredito sempre na nossa responsabilidade diante do que nos acontece, mas hoje, nessa situação, que envolve poder público, sei que me entenderão.
Entra prefeito, sai prefeito e o modo como esse setor é tratado segue igual ao tempo em que meu pai, ainda jovem e com saúde, dizia o quanto era difícil receber um atendimento da área da saúde de modo decente e digno. Hoje, meu velho, ex-metalúrgico, com quase 80, constata que as coisas não mudaram muito. Sim, salve o SUS, essa é minha bandeira, mas, convenhamos, a gestão do espaço é fundamental para que a máquina não apenas não pare, mas não nos mastigue como se não tivéssemos o direito ao bom atendimento. Nas sete horas em que estive em pé, ou sentada na calçada, diante da Upa Central a espera de uma resposta de como meu pai estava, ouvindo apenas que o médico me chamaria ao ter os exames em mãos (o que não aconteceu), fiquei pensando em como nosso voto não vale nada, como pagar impostos não vale nada, como fazemos a manutenção de um sistema falido que se transformou numa máquina pesada e inoperante. Para além disso, o que foi que aconteceu com o ser humano? Quando foi que nos tornamos peças dessa engrenagem, frios, distantes, agindo com descaso diante da dor do outro e completamente desumanizados? Eu sei, eu sei, passei uma vida toda ouvindo isso, que acredito demais nas pessoas e que sou uma sonhadora. Sonho, sonho mesmo. Sonho com um mundo mais humano, com uma política que sirva aos interesses do coletivo e com estruturas de acolhimento com pessoas não só competentes, mas humanas e empáticas. Eu sei também que vou morrer sem ver isso acontecer, mesmo assim, sigo teimosamente, acreditando.
Antes que eu seja injusta e ratificando a minha mania de acreditar nas pessoas, diante de tanta angústia enfrentada nos últimos dias, a alguns profissionais que trabalham neste local, alguns, meu agradecimento, pois acolheram minha busca de informação sobre o estado de saúde de meu pai, se colocaram a disposição para responder as perguntas e me trataram com respeito.
É isso, sabe, é preciso investir nas pessoas, na saúde mental e emocional, não só de quem está internado, mas de quem acompanha, pensar políticas públicas de acolhimento deste desamparo perante a perda da saúde, mas para isso, precisamos não só de bons gestores e administradores públicos, é preciso ser humano, o que parece estar em extinção.