Enquanto escrevo esta crônica, Lolô me olha e pede sua ração. Adoro gatos, eles são carinhosos. Gosto de cachorros também. Gostaria de ter galinhas, patos, gansos e talvez uma cabra, para desespero dos vizinhos. O único animal que tenho restrições é o bicho homem e não há demagogia no acabo de dizer. Hoje convivo com sete cachorros e dois gatos, todos de rua e a maioria deles adotados na época do natal.
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Camélia tem 14 anos e fora abandonada depois de atropelada na rota do sol. Danton Robespierre tem dez anos e o encontrei ainda bebê jogado no meio do mato, infestado por carrapatos. Havia parasitas dentro das pálpebras, no nariz, ouvidos e ânus. Alphonsina Storni tem três, fora encontrada na rua, pesava um quilo e meio e não conseguia ficar de pé. Fredy Mercury tem seis e foi encontrado dentro de um saco de lixo amarrado. Fidel tem oito anos, é cego e nos foi dado por que não iria ser vendido. Oscar Wilde tem dez e fora deixado em frente a nossa casa, amarrado com um cadarço de tênis no portão. Bibi é um vira-latas de 22 anos, veio de uma ninhada de oito, já perdeu quase todos os dentes. Capitu está com quatro anos e a encontrei ainda bebê dentro de uma boca de lobo. Era inverno. Meti a mão dentro do esgoto e resgatei de lá a gatinha mais cheia de personalidade que já conheci. O mais recente na casa é o gato Severino. Fora abandonado na rua, teve uma rápida passagem por um gatil e agora vive disputando espaço no sofá com meu pai. Cada um deles tem uma história e estão vivendo conosco há anos. Sim, os animais vivem anos, não são brinquedos, nem são descartáveis. Não há problema algum em você não gostar de bichos, o problema é você pegar para cuidar e depois de um tempo, seja lá por que motivo for, abandoná-lo. Não entendo como o ser humano faz isso. Que tipo de pessoa é esta que não consegue ver que ali há uma vida?
Sabe, estamos nos aproximando do Natal, período de reflexão, só queria dizer que não adianta muito desejar um ano novo melhor se você continua tendo as mesmas atitudes e não respeitando não só os animais, mas achando que pessoas como eu tem a obrigação de dar conta da sua falta de sensibilidade. Finalizo este texto com a Lolô, gatinha da Ana, que passou grande parte da sua vida num gatil, satisfeita depois de comer. Hoje ela pesa seis quilos, adora fígado cozido e tem outros três irmãos felinos, o Chuá, a Tigresa e a Preta, todos adotados. Quem sabe pedimos que este seja um Natal de menos animais abandonados e mais consciência. Ah, e menos fogos também, por favor.