Lá da onde eu vim, da minha terra da infância, o mundo tem cheiro de chuva. A melhor parte do dia era quando depois de muito correr, banho tomado e barriga cheia, ver a chuva chegar. E a chuva era um convite para entrar na casa dos sonhos. Quando a gente é criança tem tantos sonhos. Eu sonhava em amar alguém que amasse poesia. Sonhava que poderia ser bióloga, veterinária, fisioterapeuta, botânica. Sonhava em conhecer a lua. Sonhava com o cheiro do pão feito pela vizinha toda sexta-feira. Ela, por anos a fio, nos presenteava com alimento e aroma, nutrindo mais que o corpo, os sonhos. Depois, na adolescência, sonhava com um mundo mais justo, pessoas mais honestas, sistemas menos corruptos.
Opinião
Adriana Antunes: o cheiro da vida
Nossa memória olfativa conta sobre quem somos
Adriana Antunes
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