A enchente que causou mortes e estragos no Rio Grande do Sul é a justificativa do governo do Estado para o atraso no lançamento do edital de concessão que prevê a implementação de pedágio free flow na RS-324, entre Passo Fundo e Nova Prata.
Questionada por GZH Passo Fundo, a Secretaria da Reconstrução Gaúcha informou que modela o edital de concessão e faz estudos com os ocupantes da via. Pontos como a quantidade de praças e locais que serão instalados os pedágios também estão em análise.
Diferente das praças de pedágio, o sistema free flow taxa os motoristas em fluxo livre, cobrando pelo quilômetro trafegado.
Em abril, um encontro na Câmara de Passo Fundo reuniu lideranças regionais com o secretário estadual de Reconstrução Gaúcha, Pedro Capeluppi, para discutir o modelo de pedágio e possibilidades de melhorias. Hoje, o trecho de pouco mais de 110 quilômetros apresenta buracos, sinalização precária e acostamentos danificados. A expectativa é que a cobrança de pedágio possibilidade a manutenção constante da rodovia.
— No momento estamos aguardando uma segunda reunião para tratar de outros pontos como onde serão as obras, os prazos e como será o edital — disse o vereador passo-fundense Saul Spinelli, que liderou a reunião de abril.
Quando se trata do trecho entre Passo Fundo e Marau da RS-324, as reclamações vêm de longa data. A Associação Comercial de Marau (ACIM), por exemplo, tem envolvimento em tratativas para melhorar a rodovia desde a sua fundação, há 60 anos.
— Os impostos pagos deveriam resolver essas questões, mas sabemos que na prática não é assim. Se resolver e de forma rápida, a classe empresarial não se opõe ao pagamento de pedágio. É o que promete o sistema free flow — disse o atual presidente da entidade, Marlon Cucchi.
Relatos de insegurança
A população que utiliza a RS-324 diariamente relata insegurança ao trafegar pela via, principalmente à noite, quando a visibilidade da estrada fica comprometida. É o caso do caminhoneiro Aires Vani, que utiliza o trajeto todos os dias há mais de cinco anos. Ele conta que socorreu outros condutores com pneus furados inúmeras vezes.
— Só quem passa no dia a dia sabe a dificuldade que é dirigir nessa estrada. Na minha opinião, com um pedágio a manutenção da via ficaria mais em dia. O que eu mais vejo é gente em beira de estrada trocando pneu. Eu cansei de socorrer mulher e filho porque furou os dois pneus e não têm o que fazer — disse.
Segundo ele, é essencial avaliar o valor a ser pago. Contudo, qualquer que seja o preço definido ficará abaixo do prejuízo que tem toda a vez que corta um pneu, que chega a R$ 1 mil.
— Sem falar nos buracos que podem causar inúmeros acidentes — completa.
A engenheira de produção Roberta Teles também usa a via com frequência, em especial nas viagens que faz de Vila Flores para Marau, onde dá aula e presta consultorias a empresas. Para ela, há vários pontos de vista a serem analisados.
— Para o usuário que usa a estrada uma ou duas vezes no mês, a preocupação com certeza é de que a tarifa cobrada lhe dê a segurança de uma estrada de boas condições, bem demarcada e com socorro imediato, independentemente do valor a ser pago. Já o usuário que vive e trabalha em municípios diferentes, tem um aumento significativo no orçamento. O ideal é que seja observado o fluxo de movimento — argumenta Roberta.