Além de alagamentos e outros problemas na zona urbana, o interior de Passo Fundo também foi afetado pelos meses de chuva intensa que atingiram o norte gaúcho. Nas estradas, vias que conectam comunidades às rodovias asfaltadas estão com a trafegabilidade prejudicada.
Desde as chuvas de setembro, a família da agricultora Jucelia Wenning vive dias de dor de cabeça para conseguir sair e voltar à comunidade de Santo Antão. Em dias com chuva, a estrada alaga e, quando a precipitação para, os atoleiros seguem presentes. Não são incomuns os episódios em que ela e o marido precisam ajudar motoristas que ficam atolados perto da propriedade.
— A gente rebocou cinco ontem (segunda-feira, dia 20) e mais dois hoje (terça, dia 21) de manhã. Já ficou atolado aqui ceifa e trator com plantadeira — disse.
Para conseguir chegar à cidade de Passo Fundo, a família precisa usar rotas alternativas que aumentam o trajeto em cerca de sete quilômetros. Além disso, o transporte escolar não passa mais pela casa, devido à dificuldade de acesso. A dificuldade se repete nas comunidades de São Roque e Pulador.
Agricultura prejudicada
A equipe de GZH Passo Fundo circulou por regiões interioranas do município durante a terça-feira e constatou os desafios enfrentados na agricultura. Durante os poucos dias de sol, a colheita de trigo e plantio de soja acontece, mas chegar até as propriedades rurais é um trabalho difícil e tem causado prejuízos.
Há 13 anos o caminhoneiro Ronei Fuhr trabalha carregando cargas de sementes. Durante a terça, ele seguia da RS-324 até a comunidade de Santa Gema quando foi surpreendido por um atoleiro. Com pressa para carregar, ele tentou passar pela lama, mas acabou atolado.
— Hoje de manhã eu quebrei o estribo, vazio. Quem é que paga isso? Ninguém paga. Me disseram que não passava aqui, mas vazio teria que passar, né? Mas não tem jeito não — lamentou o caminhoneiro que esperava fazer três carregamentos no dia e foi interrompido quando ia fazer o segundo.
Segundo Ronei, cada viagem perdida lhe acarreta em prejuízo de, pelo menos, R$ 1 mil reais.
Prefeitura trabalha para arrumar pontos críticos
Passo Fundo tem cerca de 700 quilômetros de estradas de chão, segundo a prefeitura. A vasta extensão somada às chuvas dos últimos meses criaram diversos atoleiros e problemas no interior do município. Diante deste cenário, a prefeitura trabalha para dar assistência a pontos críticos, segundo o secretário de Agricultura, Cristian Thans.
Conforme o titular da pasta, equipes e maquinário já foram deslocados para diversos pontos, mas até mesmo patrolas e outros veículos pesados estão com dificuldade para trabalhar nas melhorias das estradas.
— A gente procura amenizar fazendo as drenagens, principalmente desses pontos onde a água está vertendo, e tenta reconstruir o pavimento para que os caminhões e os veículos passem. Mas, sem dúvida nenhuma, é uma tarefa bastante difícil e demorada — afirmou.
Ainda segundo Thans, três equipes trabalham simultaneamente em diversos pontos do interior de Passo Fundo para conseguir arrumar as estradas e permitir trafegabilidade.
Sobre o transporte escolar, Thans informou que a prefeitura pediu o cancelamento das aulas nas escolas estaduais das comunidades de Santo Antão, São Roque e Pulador, onde a situação das estradas é mais crítica.
Segundo Carine Weber, coordenadora da 7ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), órgão responsável pelas instituições do interior em Passo Fundo, a avalição sobre o transporte escolas nas estradas prejudicadas acontece diariamente.
— Se o tempo muda, o cenário também pode mudar, para melhor ou pior. Não temos como prever a suspensão das aulas e as escolas estão em contato direto e cotidiano com as famílias. Não há como ter previsão a longo prazo porque, se a estrada seca tem condições do transporte passar. Então realmente é uma avaliação diária e cotidiana. Estamos monitorando e acompanhando, mas foge completamente de qualquer planejamento possível as condições da situação climática nesse momento — pontuou.