Há 13 anos a família de Cíntia Luana Ribeiro Morais convive com a angústia da incerteza. A mulher, à época com 14 anos, desapareceu em Três Passos, no noroeste gaúcho, após relatar à família que encontraria com o pai de seu filho, de quem estava grávida de sete meses.
Sem deixar rastros ou marcas que comprovem a ocorrência de algum crime, a investigação sobre o desaparecimento foi finalizada em agosto de 2014 e entregue ao Poder Judiciário, que arquivou o caso em julho de 2022.
Com o passar dos anos, tanto a polícia quanto a família receberam indícios de que a jovem teria sido vista na Argentina. No entanto, nenhuma prova concreta jamais foi encontrada.
A família, dividida entre acreditar ou não no fato de Cintia estar viva, tenta evitar que o caso seja esquecido. Uma de suas irmãs mais próximas, Loreni de Moraes, acredita que a jovem não teria motivos para fugir e viver escondida por tantos anos:
— Tínhamos perdido nosso pai há nove meses e ela se preocupava muito com a mãe, dizia que não ia abandoná-la. Ela jamais teria fugido de nós, ela não faria isso. Alguma coisa aconteceu com ela, fizeram algo, mas a gente não consegue provar.
O dia do desaparecimento
O último registro que se tem da jovem é o encontro com o pai da bebê às 19h de 13 de julho de 2011. Na época, Cintia Luana dividia a casa com a mãe e três irmãos. Antes de sair, disse que voltaria em 20 minutos e deixou a residência sem levar documentos ou itens pessoais, apenas com a roupa do corpo.
— O pai da bebê ligou para marcar o encontro e esperou ela em uma parada de ônibus a poucos metros de casa. No início ela falou que não queria encontrar ele porque só brigavam, mas mudou de ideia porque iam falar do bebê — relata a irmã.
Casado com outra mulher, eles haviam se desentendido sobre a jovem manter a gravidez. Em seu primeiro depoimento à polícia, o rapaz negou ter estado com ela naquele dia. Porém, a versão foi mudada quatro dias depois ao saber que a investigação havia comprovado uma ligação telefônica entre os dois antes do encontro.
Em novo relato, disse que entregou R$ 10 mil para que ela tivesse a filha em outra cidade porque não queria que sua esposa soubesse da gravidez.
— Uma hora depois que ela saiu, a mãe começou ficar preocupada e ligou. Em troca recebeu uma mensagem, que depois descobrimos que era ele com o chip dela, dizendo que estariam indo passear em Santa Catarina, que era pra mãe deixá-la em paz. Mas depois disso denunciamos, e tudo aconteceu — lembra Loreni.
O que se sabe até agora
A investigação passou por três delegados e reuniu mais de 900 páginas de inquérito policial. Suspeitos foram investigados, incluindo o pai do bebê e um comerciante com quem a adolescente também teria mantido um relacionamento. Casas e veículos foram periciados, mas nada foi encontrado.
Em junho de 2012, a delegada da época, Caroline Bamberg Machado, viajou até a Argentina atrás de pistas. Entre os ouvidos, um homem relatou à polícia que esteve com uma moça chamada Luana, de 14 ou 15 anos, em um baile argentino em 26 de dezembro de 2011. O rapaz reconheceu a garota pela foto, mas disse que ela era loira. Contou que ela disse ter fugido por desentendimentos com a família e estaria morando em Vila Faina, na fronteira com o Brasil.
Em visita à localidade, os policiais não encontraram a jovem. O mesmo trabalho seguiu por três anos, com diligências em cidades onde havia informações de que a jovem poderia estar, mas nada foi confirmado.
O inquérito foi concluído sem indiciamentos. Em entrevista a GZH à época, a delegada disse que não havia elementos para comprovar que Luana foi vítima de crime, ou sobre o envolvimento do pai da bebê.
Mesmo com o inquérito policial remetido ao Poder Judiciário em agosto de 2014, novas testemunhas foram ouvidas em 2015, quando o delegado Marion Volino assumiu a delegacia da cidade. Porém, novamente, não foi encontrado nada de concreto e o caso foi arquivado em julho de 2022.
— Realizamos algumas oitivas após surgirem informações de que Cintia Luana teria sido vista na Argentina. Porém a informação não foi confirmada. Só reabriremos o inquérito se surgirem novas provas — informou Volino.
Família aguarda desfecho
Sem provas e com investigações encerradas, a família convive com a incerteza do que aconteceu com a jovem. Mesmo sem acreditar na possibilidade da irmã estar viva, a falta de indícios ainda assola Loreni:
— Quando uma pessoa morre é definitivo, a gente sabe que nunca mais vai voltar. Mas um desaparecimento deixa um sentimento muito diferente. Às vezes eu passo noites em claro pensando em coisas que podem ter acontecido com ela, que ela pode estar sofrendo em algum lugar. Mas saber, eu não sei. A gente só queria ter essa certeza que ela não está sofrendo — termina.