Há dois anos, familiares de Márcia Ramos, 43 anos, vivem a angústia de não ter notícias sobre o paradeiro da cuidadora de idosos. Ela foi vista pela última vez por volta do meio-dia de 14 de outubro de 2021. Naquele dia, deixou o trabalho pela manhã, almoçou com os pais e não foi mais vista. Levou consigo apenas o celular.
Desde então, não há nenhuma pista sobre o que aconteceu com ela. Frente à incerteza, a família reúne forças para fazer buscas:
— Ela está viva, e ela vai voltar, sinto isso. A polícia já deixou de procurar, o Ministério Público também não tem novidades, mas a gente não vai deixar de procurar por ela um dia sequer, tenho certeza que ela está por aí — diz a mãe de Márcia, Natércia Ramos.
O caso foi registrado na Polícia Civil, mas as investigações foram encerradas. Conforme a delegada Daniela Minetto, da Delegacia Especializada em Homicídios e Desaparecidos de Passo Fundo, faltam de elementos que possam dar suporte aos trabalhos:
— O caso da Márcia foi um dos que mais nos chamou a atenção pela forma que se deu. Ela tinha uma rotina estável e desapareceu sem deixar provas. E essa falta de elementos é o que dificulta a investigação.
Uma pessoa pode ser registrada como desaparecida assim que algo sair de sua rotina normal, independentemente do tempo em que foi vista pela última vez. A partir do registro, a polícia traça um perfil do desaparecido para realizar as buscas. Fatores como pessoas com quem convive, se mora com alguém, o estado civil, se costuma ficar dias sem contato ou se tem um perfil depressivo são levados em consideração.
— Normalmente, a partir daí já localizamos. Se não, ouvimos familiares, amigos e, em último caso, pedimos a quebra de sigilo telefônico e das redes sociais — explica Daniela.
Quarta taxa mais alta do país
O Rio Grande do Sul registrou, em média, 18 pessoas desaparecidas por dia no ano passado. Esse é o dado analisado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que totaliza 6.888 ocorrências de desaparecimento no Estado. Em comparação com outros Estados, os gaúchos têm quarta maior taxa do Brasil: 63,3 por 100 mil habitantes, quase o dobro da nacional (32 por 100 mil).
Entre os motivos para esses números, o estudo aponta questões como aqueles que optaram por romper o vínculo com conhecidos, vítimas de acidentes, sequestros ou desastres naturais, e aqueles que se perderam em razão de saúde mental.
A primeira edição do Mapa dos Desaparecidos no Brasil, elaborado pelo Fórum e lançado neste ano, analisa dados do período entre 2019 e 2021, quando o RS somou 21,8 mil desaparecidos. O maioria dos casos envolvem homens (12,8 mil registros), com idade entre 12 e 17 anos (8,5 mil casos). Cerca de 15 mil desaparecidos tinham a pele branca, segundo os registros.
Mas os números trazem alento para famílias como a de Márcia. O RS teve, no período, a maior média de pessoas encontradas no Brasil. No triênio, 21,2 mil pessoas foram encontradas no Estado. O dado não aponta se essas pessoas desapareceram nesses mesmos anos ou em anos anteriores, se o número foi subtraído do total de desaparecidos, ou, ainda, se essas pessoas foram localizadas com vida.