Em entrevista no programa Gaúcha Mais, na tarde desta quinta-feira (26), Pedro Ernesto Santos Fernandes contou o que viveu nos quatro dias que ficou preso em Passo Fundo após um erro do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Segundo ele, o momento da prisão pareceu "cena de filme" e ele ficou sem entender por que estava sendo detido.
— No dia 11 de outubro eu saí para trabalhar e, por volta das 9h30min, fui para uma consulta médica no centro da cidade. Chegando no local, fui abordado pela Polícia Federal, que me deu voz de prisão por um crime que aconteceu em Rio Claro (SP). Não faço ideia de onde seja Rio Claro, os policiais somente diziam que tinham que cumprir o mandado de prisão e me encaminharam para o presídio — lembra.
Fernandes ficou quatro dias e três noites preso no Presídio Regional de Passo Fundo. Ele conta que foram dias estressantes, cansativos e de muito medo.
— Foi traumatizante. Fui preso por um crime que tinha sido cometido em São Paulo, em uma cidade que nem conheço. Por isso os presos achavam que eu era de alguma facção. Foi muito difícil, noites de medo e apreensão. Foram três noites chuvosas, de muito frio e um lugar totalmente insalubre.
Após ser abordado pela Polícia Federal, Pedro teve apenas o direito de fazer uma ligação, quando avisou sua esposa que contratou um advogado para acompanhar o caso.
Cela de triagem
Nos quatro dias e três noites que ficou na cadeia, Fernandes ficou na cela de triagem, espaço anterior às celas onde ficam os demais presos. Com ele, contudo, passaram pelo menos outros quatro detentos, que iam para a audiência de custódia e eram liberados.
“O nome não é bem o mesmo, a idade não é a mesma, a mãe não é mesma. Um erro absurdo”
PEDRO ERNESTO SANTOS FERNANDES
Servidor público
— Como a cela de triagem fica na entrada do presídio, tem presos a noite toda entrando e saindo. Não tem uma noite de sono, o dia não passa. Cada minuto e segundo é uma agonia. A cela tem quatro beliches de concreto, em um espaço 3 metros quadrados com muita sujeira, totalmente insalubre. Você fica 24 horas nesse espaço sem saber o que está acontecendo lá fora e com pessoas que realmente cometeram crimes.
Trauma
No dia da prisão, Fernandes tinha como álibi o fato de ter registrado ponto biométrico na Câmara de Vereadores. Ele é servidor do local há 10 anos. Atualmente, Pedro está de férias do trabalho e em tratamento psicológico para lidar com o trauma.
— É muito difícil até para sair na rua. Foi algo tão horrível, tão violento. Um constrangimento de tirar a roupa na frente de pessoas, ser algemado, ficar preso por quatro dias sem banho de sol, sem sair, é algo inexplicável.
A defesa de Pedro já afirmou que ingressará com ação indenizatória contra o Tribunal de Justiça de São Paulo. Na quarta-feira, o órgão afirmou que a prisão do servidor foi um "equívoco".
— Com certeza nada vai reparar o que passei, não existe valor que apague os dias que passei preso. A justiça deve ser feita para que isso não aconteça com outras pessoas — afirma Pedro.
Para quem era o mandado de prisão
O mandado de prisão foi emitido em nome de Fernandes, mas tinha como alvo outra pessoa. Era Pedro Ernesto Fernandes, 36 anos, que está preso desde fevereiro na cidade de Americana (SP).
Ele foi detido em flagrante e responde pelo crime de furto qualificado. O processo pelo qual foi confundido pelo passo-fundense está em andamento. Ele é acusado de um assalto a mão armada realizado na cidade de Rio Claro, em 2017.