Pacientes com HIV em Passo Fundo e Erechim, no norte gaúcho, relatam falta de medicamentos retrovirais para tratamento da doença. O problema estaria ocorrendo desde o fim da última semana, quando tentaram fazer a retirada gratuita dos itens no Serviço de Atendimento Especializado (SAE), mas havia falta no estoque.
— Minha carga viral está alta e não posso ficar sem a medicação. Só tenho remédio até sábado e depois não sei o que fazer. Estou muito abalado. Além de vivermos com todos os estigmas sociais, ainda passamos por essa situação deplorável do serviço público — relata um dos pacientes, que pediu para não ter a identidade divulgada.
Os medicamentos em falta são dolutegravir sódico e fumarato de tenofovir desoproxila com lamivudina, ambos usados para manter a carga viral indetectável, evitando novas transmissões e o desenvolvimento de doenças oportunistas e da aids.
Em Passo Fundo, um paciente de 35 anos e que está há 11 meses em tratamento também não encontrou a medicação quando procurou o SAE. Nesta quarta-feira (27), foi a Carazinho, distante cerca de 50 quilômetros, para retirar os remédios, distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e que não são vendidos em farmácias.
— A informação foi de que havia falta de abastecimento. O problema é que, com o tratamento interrompido, podemos sofrer com doenças oportunistas — diz.
Situação semelhante ocorreu em Ijuí, onde a entrega de medicamentos prevista para o dia 10 deste mês ocorreu somente nesta quarta. No entanto, não chegou a ocorrer problemas na distribuição aos pacientes porque foram transferidos itens de Cruz Alta.
A 11ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), que abrange Erechim, informou que medicamentos de HIV/aids estão agendados para serem retirados em Porto Alegre na quinta-feira (28), com previsão de chegada ao município na sexta-feira (29).
Segundo o órgão, o atraso na entrega ocorreu devido a inventário do Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF), em Porto Alegre, e está sendo regularizado.
Em Passo Fundo, o setor de assistência farmacêutica da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde, que atende 62 municípios, relatou atraso no transporte do medicamento, mas informou que o carregamento chegou nesta quarta ao município. A partir desta quinta-feira (28), a medicação estará disponível para as secretarias municipais realizarem a retirada. Em caso de dúvidas, pacientes podem entrar em contato pelo e-mail 6crs@saude.rs.gov.br. Não foi informado desde quando há falta de medicamentos na região.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) não informou o motivo pelo qual há atraso na distribuição da medicação e nem deu uma previsão sobre a normalização do serviço. Em nota, relatou apenas como é o processo descentralizado de dispensação para os municípios (leia íntegra abaixo).
O que diz a SES
"A Secretaria Estadual da Saúde informa que a dispensação de medicamentos está descentralizada para os municípios em todo o estado. POA foi o último município a assumir a Farmácia de Medicamentos Especiais, em janeiro de 2022.
Compete ao Estado a aquisição e repasse aos municípios de parte do elenco de medicamentos, bem como o repasse dos demais itens fornecidos pelo Ministério da Saúde.
A gestão da CELME (Farmácia de Medicamento Especiais de POA) é do Município, que vem se empenhando para atender cada vez melhor os usuários.
O processo de renovação de documentos para a continuidade dos tratamentos sempre existiu, pois a avaliação técnica periódica é requisito para o acesso a medicamentos especiais. Destaca-se que a renovação dos tratamentos também pode ser realizada de forma online no site farmaciadigital.rs.gov.br."