Passo Fundo tem 11 intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras) para atender cerca de 10 mil pessoas surdas ou com deficiência auditiva, número estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na cidade. A demanda de trabalho é alta para a baixa oferta de profissionais, que esbarram em problemas como poucas opções de especialização na área e desmotivação pela falta de reconhecimento.
A complexidade de Libras, que foi reconhecida como uma língua oficial no Brasil em 2002, torna necessária a busca por uma formação além de cursos, uma vez que estes focam no vocabulário, mas não abrangem técnicas específicas. Além disso, nenhuma instituição oferece essa especialização em Passo Fundo, conforme pontua a representante da Associação de Tradutores Intérpretes de Língua de Sinais (Atils), Francine Pimentel.
— Por isso são tão poucos profissionais. A falta de conhecimento da sociedade sobre a língua e sobre pessoas surdas influencia nisso. Nas escolas, por exemplo, temos inglês e espanhol, mas não essa língua, que é daqui — pontua Francine.
Em 2023, a Câmara de Vereadores de Passo Fundo contratou intérpretes de Libras para atuar no atendimento e nas sessões da Casa legislativa. Apesar do avanço, os profissionais não são fixos ou concursados, contrariando uma luta antiga da Atils. O trabalho é prestado por meio de credenciamento e, hoje, atuam três pessoas, em sistema de rodízio, nas sessões das 15h. No entanto, há dificuldade em suprir a demanda nos eventos das 18h.
— Muitos dos intérpretes acabam fazendo trabalho voluntário porque muitos surdos não têm condição de pagar, mas precisam de acompanhante para uma consulta médica ou um atendimento na delegacia, por exemplo. Locais públicos deveriam oferecer esse suporte, o que não acontece — salienta Francine.
Tanto a Atils quanto a Associação de Pais e Amigos dos Surdos (Apas) reivindicam há 10 anos a criação de uma central de intérpretes em Passo Fundo, para que seja possível centralizar os profissionais e designá-los para atendimento em locais públicos.
— A intérprete de Libras possibilita a comunicação entre os surdos e os ouvintes., então é preciso ter um órgão que disponibilize pessoas para prestar esse serviço. Nossa cidade é um exemplo na região, mas para a pessoa surda, está bem aquém do que deveria. Reconhecemos que a acessibilidade dos surdos não é fácil, porque depende de outras pessoas, mas precisamos ter mais ações de inclusão — acrescenta a conselheira da Apas, Salete de Souza.
Inclusão
Apesar do trabalho de intérprete exigir maior qualificação, a aprendizagem do vocabulário básico pode auxiliar em um primeiro atendimento ao público surdo. É o caso de 54 profissionais do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) que se formaram nos cursos de Libras disponibilizados gratuitamente pela instituição aos colaboradores.
— Sabemos que é uma grande necessidade dos pacientes e familiares, então no ano passado fizemos essa parceria com a Apas para oferecer o curso. É um semestre de aulas teóricas e práticas, no nível básico, mas os alunos podem aprimorar se tiverem interesse — afirma a gerente de Desenvolvimento de Recursos Humanos do HSVP, Andressa Tonon.
Ela conta que quem participou do curso sentiu o impacto de poder facilitar a comunicação, além do retorno positivo de pacientes surdos que buscam a unidade.
— Já notamos a diferença, tivemos feedbacks de pacientes que chegaram ao atendimento e foram cumprimentados em Libras e se sentiram gratos por isso. Ficamos muito felizes com o resultado e propósito da ação — conclui ela.
Onde tem curso de Libras em Passo Fundo
Além do HSVP, a Universidade de Passo Fundo (UPF) também disponibiliza cursos de Libras tanto em disciplinas para estudantes matriculados quanto em cursos de extensão para a comunidade em geral. As aulas acontecem durante o ano letivo e as inscrições são divulgadas no site da instituição.
A Apas também oferece curso de Libras com inscrições abertas pelo menos duas vezes ao ano, a cada semestre. Os cursos são pagos, têm duração de 300 horas e são divididos em quatro níveis, com aulas duas vezes por semana.
São duas modalidades de ensino: voltado para a comunidade que quer aprender a língua e para empresas. O próximo período de inscrições está previsto para fevereiro. Para mais informações, basta acessar a página do Facebook ou site da entidade.