Por Nadja Hartmann, jornalista
Como parte da sua principal bandeira de gestão, que é garantir um grande protagonismo para a Câmara de Passo Fundo, o presidente Saul Spinelli está organizando, juntamente com o prefeito de Marau, Iura Kurtz (MDB), uma audiência pública regional para tratar sobre a concessão da RS-324, entre Passo Fundo e Marau.
A audiência irá reunir prefeitos de municípios da Ampla (Associação de Municípios do Planalto) com o secretário estadual de Parcerias e Concessões Pedro Capeluppi em 30 de abril.
Em pauta estarão itens da licitação, que ocorre em maio, juntamente com as demais concessões do chamado Bloco 2. Deve haver questionamentos principalmente quanto aos prazos definidos para duplicação da rodovia e a cobrança para motoristas da região. Um dos avanços já confirmados é a implantação do free flow, sistema que permite a passagem rápida. A audiência deve reforçar a mobilização pela urgência das obras, uma vez que a rodovia é uma das mais perigosas do Estado.
Subsídio volta à pauta
Com a notícia da venda da Coleurb, a pauta do subsídio ao transporte coletivo urbano voltou à pauta da Câmara de Vereadores, dominando praticamente todo o tempo da sessão da última segunda-feira (8). As críticas, com frases que remetiam ao famoso “eu avisei”, partiram principalmente de vereadores da oposição, que votaram contrários ao subsídio em maio de 2023.
A vereadora Regina Costa (PDT) entrará com um pedido de informações pedindo esclarecimentos sobre a utilização dos cerca de R$ 7 milhões autorizados para a empresa e sobre itens do contrato. Já a vereadora Eva Lorenzatto (PT) lembrou da necessidade de licitação urgente. Porém, as críticas mais duras partiram do vereador Rodinei Candeia (Republicanos), que cobrou por mais transparência no processo, uma vez que envolve dinheiro público. Em defesa, o Batalhão de Choque do governo teve que entrar em campo...
Entre o hipotético e o possível
Fechada a janela partidária, com cada partido já definido em relação as armas que vai poder contar em suas nominatas ao Legislativo, as atenções agora se voltam agora para as majoritárias. Em tese, faltando seis meses para as eleições, oficialmente Passo Fundo só tem um candidato à prefeito: Pedro Almeida, que concorre à reeleição.
E, mesmo assim, há boatos delirantes circulando que até mesmo isso possa mudar, com uma possível — mas improvável — candidatura do deputado Luciano Azevedo que viria à disputa municipal como plano B do PSD para se manter no poder, caso a reeleição de Pedro se mostre ameaçada — o que, por enquanto, os números não demonstram... Porém, sempre vale lembrar também que, como suplente de deputado, Luciano não tem mandato 100% garantido até 2026.
Seguindo no campo das hipóteses remotas, caso isso venha acontecer, Luciano e Airton Dipp (PDT) se enfrentariam pela terceira vez, com o detalhe que, em 2004 e 2008, Dipp saiu vitorioso. Saindo do hipotético e indo para o possível e provável, o ex-prefeito Airton Dipp é o candidato à prefeito do PDT ao lado de Júlio Stobbe, do PT.
Bode na sala
...Mas o bode pode vir para a sala. Por “bode” leia-se PSB, que pode embolar o meio de campo do atual quadro posto. Especula-se sobre o ingresso do partido na frente de esquerda, com uma entrada em cena do ex-deputado Beto Albuquerque ou mesmo do presidente da Câmara, vereador Saul Spinelli. Ambos estão em Brasília esta semana e certamente a eleição municipal em Passo Fundo estará em pauta.
De qualquer forma, nos bastidores fala-se que o martelo da frente de esquerda já está batido e só falta soltar a fumaça branca para confirmar. Dizem que a decisão de Dipp por concorrer só foi tomada diante de uma forte pressão e não só do meio político, mas principalmente do setor empresarial de Passo Fundo. O que ainda não se sabe — mas já está sendo medido por inúmeras pesquisas — é qual será o efeito Dipp nestas eleições...
Estratégia contra a polarização
Como disse, todas as hipóteses estão sendo devidamente testadas em pesquisas, algumas mais e outras menos metodológicas, mas, de qualquer forma, os resultados já foram suficientes para acender alguns sinais de alerta que podem justificar algumas decisões. Uma delas é a candidatura do coronel Volnei Ceolin como vice de Pedro Almeida, o que não apenas manteria a dobradinha PSD-MDB, mas neutralizaria a polarização, arrebanhando votos da direita que deve vir para a disputa com Márcio Patussi (PL) e Cláudio Dóro (Podemos).
A estratégia faz sentido, já que a polarização pode não ser interessante para quem está no poder. Ou seja, para o prefeito Pedro Almeida, o “melhor dos mundos” seria inflamar uma polarização entre a frente de esquerda e a frente de direita, tirando o governo e a gestão do centro dos debates, correndo por fora e levando na carona uma ala dos bolsonaristas simpática aos militares, representados por Ceolin.
Além disso, o coronel possui amplo trânsito político e, não menos importante, como militar, respeita a hierarquia. Outra possibilidade seria o MDB indicar uma mulher para candidata à vice. Um dos nomes cotados é da vereadora Janaína Portella...
Reação
Resta saber como os demais partidos que fazem parte da coligação irão reagir com uma nova dobradinha do PSD com o MDB, que já se mantém há 12 anos. E o PSDB, de Mateus Wesp, irá se contentar com uma mera posição de coadjuvante, apenas como apoiador da chapa? Diante disso, como fica a relação com o governador Eduardo Leite?
Aliás, o PSDB em nível nacional tomou mais um tombo durante a janela partidária, com a perda de quadros importantes em todo o país. Fala-se que o desmonte do partido ameaça até mesmo a candidatura de Leite ao Planalto, e que ele pode optar por uma candidatura ao Senado em 2026. Já o PL, arrebatou mais 214 vereadores em todo o país. Em Passo Fundo, por exemplo, passou de um para três vereadores, empatando com o PDT, PSD e PP.
Afagos
Com a manutenção do lugar de vice na candidatura à majoritária, o MDB ameniza a insatisfação interna, que já vinha ameaçando o partido de dissidências importantes. Outro partido que recebeu um afago nos últimos dias foi o PSB, que continuou no comando da Secretaria de Habitação, mantendo os seus espaços no governo. Já na Obras, o prefeito Pedro Almeida optou por um servidor de carreira, bastante próximo do agora ex-secretário Rubens Astolfi. Ainda falta definir os substitutos nas secretarias de Meio Ambiente e Esportes.
Em tempo
- No fechamento da janela partidária, o deputado federal carazinhense Ronaldo Nogueira (Republicanos) transferiu seu domicílio eleitoral para Porto Alegre, o que o torna apto a disputar a prefeitura da capital. Já a deputada estadual Nadine Anflor, que vinha sendo cotada como possível nome do PSDB à prefeitura de Porto Alegre, manteve seu domicílio eleitoral em Getúlio Vargas.
- Importante liderança da direita em Passo Fundo, o ex-vereador Patric Cavalcanti se desfiliou do PL e está independente, por enquanto...
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