Por Nadja Hartmann, jornalista
Tendo em vista as eleições municipais do ano que vem, a coluna entrou no clima “revival” e foi conversar com alguns dos ex-prefeitos de Passo Fundo. Aliás, em um mundo ideal e ao mesmo tempo utópico, como seria importante que cada gestor pudesse contar com um “Conselhão dos Ex-Prefeitos”. Quantos erros recorrentes poderiam ser evitados e quanto tempo poderia ser poupado com toda a experiência destes políticos, alguns deles, prefeitos por dois e até três mandatos. Apesar de terem assumido o comando do município em épocas diferentes com realidades totalmente distintas e partidos idem, os ex-prefeitos que trago na coluna de hoje — Fernando Carrion (PP), Júlio Teixeira (MDB) e Airton Dipp (PDT) — concordam em um aspecto: o maior desafio de um gestor público municipal está na saúde e na educação. Foi assim no século passado, nas décadas de 80 e 90 e continua sendo nos dias atuais...
Investimentos
Ao mesmo tempo, se tem outro ponto em comum entre os três s ex-prefeitos é que todos investiram muito nestas duas áreas. Júlio Teixeira, por exemplo, que foi prefeito de 1997 a 2000 se emociona ao lembrar do programa “Sonhar é preciso”, que em 1999, levou 34 alunos e professores da rede municipal de ensino a Portugal, por conta das comemorações dos 500 anos do descobrimento. Já Fernando Carrion que esteve a frente da Prefeitura de 1983 a 1988 contabiliza construções e reformas de cerca de 100 escolas na sua gestão. Airton Dipp, que foi prefeito em três gestões, de 1989 a 1992; 2005 a 2008 e de 2009 a 2012, lembra da vinda do Instituto Federal (IFSul) durante a sua gestão, com o objetivo de qualificar mão-de-obra para o setor industrial, que deu um grande salto especialmente na sua última gestão.
Reindustrialização
Sobre a reindustrialização de Passo Fundo, Dipp lembra que Passo Fundo não tinha grande vocação para a indústria, focando sempre em serviços.
— Junto com lideranças fui buscar incentivos para que as indústrias existentes pudessem ampliar as suas atividades e também buscar novos empreendimentos — afirma.
O resultado, lembra ele, foi a criação de dois Distritos Industriais e uma ampliação na arrecadação, que passou de R$140 milhões em 2005 para R$460 milhões, sete anos depois. Aliás, esse movimento de reindustrialização foi marca da sua gestão, segundo Dipp.
Saúde
Já na saúde, as décadas de 80 e 90 também foram promissoras segundo os ex-prefeitos da época. Como médico, Júlio Teixeira, cita o tratamento pioneiro que foi desenvolvido no Hospital Municipal para evitar o chamado contágio vertical do vírus da Aids de mãe para filho, doença que na década de 1980 representava uma das maiores preocupações para a saúde pública. Segundo ele, apesar da pouca repercussão que teve na época, o tratamento desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde conseguiu praticamente zerar esse tipo de contaminação no município. Ao mesmo tempo, fala da frustração de não ter conseguido implementar o ambulatório para fabricação de medicamentos básicos. Como um exímio engenheiro e ótima memória, Carrion faz questão de citar números exatos da sua gestão. Segundo ele, em quatro anos foram criados 26 ambulatórios nos bairros de Passo Fundo. Já Dipp, fala da fragilidade do governo federal na área da saúde, que acaba terceirizando a atribuição em grande parte para os municípios, mas que o investimento em qualidade de vida é fundamental para a administração municipal.
Preocupação
Mesmo que até hoje a mobilidade urbana continue sendo um grande desafio para a gestão pública municipal, nas décadas de 1980 e 1990, Passo Fundo convivia com um problema ainda maior do enfrentado hoje. Os alagamentos representavam um verdadeiro pesadelo para os prefeitos da época. Por isso, os grandes investimentos feitos nas gestões dos ex-prefeitos da época na infraestrutura viária do município. Aliás, sobre os alagamentos, o El Niño enfrentado no primeiro ano de mandato de Júlio Teixeira se transformou em um trauma para o ex-prefeito. Na época, segundo ele, a cidade tinha mais de 30 pontos crônicos de alagamento. Apesar da realidade ser diferente hoje, ele se diz extremamente preocupado com o anúncio da ocorrência do fenômeno este ano.
Frustrações
Como todo gestor, assim como há conquistas, também há frustrações. Júlio Teixeira fala com tristeza do fim da Efrica e da saída do Exército de Passo Fundo durante a sua gestão. Carrion, no entanto, fala não só com tristeza, mas até com uma certa mágoa por não ter conseguido fazer o viaduto na BR 285, obra que ele tentou viabilizar depois como deputado federal, mas que “forças ocultas” impediram... A frustração do ex-prefeito Airton Dipp foi não ter conseguido dar continuidade nas obras garantidas com recursos a fundo pedido, mas que como foi aprovado no final da sua gestão, não houve tempo de concluir.
— Não fizemos nem 30% — lamenta.
Conselho
Os três ex-prefeitos apesar de se manterem filiados aos seus respectivos partidos, dizem não acompanhar mais de perto a política local... Dipp chegou a ser cogitado para concorrer no ano que vem, mas descarta essa hipótese, já que está há quase dez anos morando em Porto Alegre. Porém, ele que já foi deputado, alerta que ser prefeito é muito mais difícil, com uma responsabilidade “20 vezes maior”. Mesmo fora da política, Carrion se orgulha de ser o “padrinho político” do deputado Luciano Azevedo (PSD), mas também descarta retornar para a política local. Hoje ele se dedica a tirar do papel o Porto Meridional, o que ele considera o maior desafio da sua vida. Já Júlio Teixeira continua se dedicando à medicina. Ao futuro prefeito de Passo Fundo, os ex-gestores aconselham que continue a priorizar a educação.