Longe do México, Ingrid Velasquez teve que readaptar a sua rotina para a nova experiência que está vivendo no Brasil. A estudante de Agronomia é uma entre os nove intercambistas de oito países que aterrissaram em março e julho para estudar na Universidade de Passo Fundo (UPF) pelos próximos meses.
Aos 22 anos, a mexicana escolheu o Brasil para realizar o primeiro intercâmbio. Segundo Ingrid, visitar o país sempre foi um grande sonho. No topo da lista de afazeres estava conhecer o Amazonas e aprender a língua portuguesa. O primeiro deles já foi realizado, já o segundo segue em andamento:
— Eu acho o português muito bonito. Já consegui aprender algumas palavras e expressões. Já sei falar "café da manhã", "almoço" e também sei identificar alguns objetos que uso para a natação. Como ainda não sei falar muito bem, às vezes pode parecer que sou meio quieta. Ah, uma das expressões que aprendi foi "cara", que vocês geralmente falam para os amigos, certo? (risos).
Ingrid também comenta que aprendeu sobre alguns falsos cognatos entre o português e o espanhol, ou seja, palavras que se assemelham, tanto na pronúncia quanto na grafia a outras de um outro idioma qualquer.
— No espanhol nós temos a palavra "exquisito" que, para a tradução do português, pode parecer que estamos falando de algo estranho. Na minha língua isso significa algo muito bom — explica a estudante.
A rotina também mudou. As aulas da faculdade que antes eram durante o turno da manhã e da tarde no México, passaram para o turno da noite em Passo Fundo. A intercambista relata que nos primeiros dias foi difícil se acostumar com a mudança de horários, mas que encontrou atividades extracurriculares para suprir o tempo livre, como a natação, que pratica dentro da universidade.
Alguns costumes ainda continuam no dia a dia da mexicana, como, por exemplo, almoçar às 15h, horário comum para a refeição no seu país de origem. Entre as principais diferenças que Ingrid sentiu nos primeiros meses do intercâmbio foi a falta do uso da pimenta nas refeições e o consumo excessivo de queijo por parte dos brasileiros.
Com pouco menos de dois meses na cidade, a mexicana ainda quer conhecer mais sobre a cultura gaúcha.
— Eu já fiz alguns amigos por aqui, que praticamente me adotaram (risos), e eles me contaram algumas histórias sobre o povo gaúcho, me falaram sobre os trajes, os vestidos e eu percebi que eles me contaram tudo isso muito orgulhosos da cultura. Então espero conhecer mais sobre antes de ir embora em dezembro — afirma.
Ingrid iniciou o curso de Agronomia em 2020 na Universidad Popular Autónoma del Estado de Puebla (UPAEP) e conta que decidiu seguir a profissão porque gosta muito de estar ao ar livre e de estudar sobre a natureza.
— Eu já pensei em fazer medicina veterinária, mas agronomia tem mais cálculos matemáticos e eu gosto disso — complementa.
Intercâmbio para ensinar
A jovem norte-americana Josie Avila, 23 anos, também escolheu o Brasil para realizar o seu intercâmbio em 2024. Diferente de Ingrid, Josie chegou ao país através do projeto americano English Teaching Assistant, da Fullbright, onde tem a oportunidade de ensinar inglês auxiliando em aulas do curso de Letras da UPF, além de ter a sua própria turma, durante um ano.
Natural do estado do Texas nos Estados Unidos, a intercambista chegou em Passo Fundo em março e é formada em Comunicação Social e Ciências Políticas pela University of Texas em El Paso. Falando um português quase fluente que aprendeu durante a faculdade com uma professora brasileira, ela conta que é a primeira vez que atua como professora de inglês e que escolheu o Brasil pela curiosidade em conhecer a cultura do país.
— Ouvi muitas histórias sobre a cultura, incluindo o carnaval. São algumas histórias estereotipadas sobre o país, mas que fizeram o meu interesse crescer. Em 2022 eu já queria visitar o Brasil, mas por conta do Covid, a minha universidade não recomendava vir para cá. Me interessei muito em conhecer porque é um país enorme e é o único do lado oeste do mundo que não tem o inglês ou o espanhol como língua nativa — afirma Josie.
Entre as diferenças culturais que mais marcaram a estadia da americana em Passo Fundo, ela lembra da primeira vez que foi para um rodízio de pizza sozinha na cidade.
— Aqui vocês têm o costume de comer pizza com garfo e faca e nós comemos com a mão. Eu lembro que enquanto eu comia eu sentia uma mulher me observar. Pensei "Como ela sabe que não sou daqui?". Quando parei e observei ao meu redor todos estavam comendo com garfo e faca (risos). Fiquei com muita vergonha, mas aprendi. É um choque cultural bem grande — conta.
Das coisas que mais sente falta dos Estados Unidos são a família e o molho ranch, típico do país. A lista de lugares visitados no Brasil já é extensa: Belém, João Pessoa, Olinda, Salvador, Belo Horizonte, Ouro Preto e excursão em Manaus. Até o final do intercâmbio Josie também quer conhecer o Rio de Janeiro, cartão postal brasileiro.
Desde os primeiros dias na cidade, a professora de inglês já sentiu o gostinho amargo do chimarrão, aprendeu sobre imigração, fez novos amigos e se sentiu feliz por conhecer um Estado que raramente está na rota dos estrangeiros.
— Eu me sinto muito grata por estar em Passo Fundo. A cultura do Rio Grande do Sul é muito rica. Todas as pessoas tem sido muito acolhedoras e demonstram interesse em trocar experiências. Estou criando relações muito bonitas e memórias que ficarão comigo para sempre — afirma Josie.