Como os fenômenos El Niño e a La Niña têm interferido no clima e, principalmente, na agricultura brasileira? Essa e outras perguntas estão no livro “El Niño Oscilação Sul: Clima, Vegetação e Agricultura”, lançado em 13 de junho pela Embrapa Trigo. A publicação está disponível de graça neste link.
A obra é assinada pelos professores Moacir Berlato e Denise Fontana, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e pelo pesquisador e agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo de Passo Fundo.
Em entrevista a GZH Passo Fundo, Cunha explica que os períodos de transição entre os dois fenômenos são fundamentais para que o produtor se prepare antevendo possíveis prejuízos nas safras. Confirma a seguir.
GZH: o El Niño está perdendo força?
Gilberto Cunha: o que se tem bem claro hoje é que o El Niño que atuou em 2023 e nesse primeiro semestre de 2024 está enfraquecendo e deverá encerrar o seu ciclo nos próximos meses. Após um período de transição de uma fase neutra do fenômeno, as projeções apontam para a volta do La Niña a partir dessa primavera.
GZH: estamos, então, no período de transição entre dois fenômenos. Qual o cenário para o qual os produtores podem se preparar?
GB: a boa notícia é principalmente para os produtores de trigo, cevada, aveia e os cultivos de inverno. Porque o que se tem com a volta do La Niña é a perspectiva de uma primavera pelo menos não tão úmida e não tão chuvosa quanto a que tivemos em 2023. Por outro lado, exige uma certa cautela em relação à safra de verão. Isso porque, nos anos de La Niña, na maioria das vezes, podemos ter estiagens de curta duração. As chuvas tendem a ficar até mesmo abaixo do padrão normal do clima.
GZH: então as culturas de verão podem ser prejudicadas?
GB: eu diria que o maior efeito do La Niña será sobre os cultivos de inverno. Em relação ao verão, é muito cedo com prognósticos e não podemos interpretar o La Niña já como uma tragédia anunciada para os cultivos em geral. Nos anos desse fenômeno, o desempenho das culturas de inverno é melhor. No verão, em alguns anos, como foi em 2021 e 2022, pode haver, sim, estiagens de curto prazo, dependendo da configuração do evento.
GZH: a Embrapa Trigo sempre reforçou a importância da forragem do solo nestes períodos. Por que?
GB: a cobertura do solo é primordial para a conservação de solo. Hoje prega-se muito que se tenha planta viva os 365 dias do ano. Ou seja, não é mais nem aquele sistema de colher e plantar na sequência. Às vezes é plantar antes e colher depois a cultura. Então é fundamental a cobertura do solo. Isso sem falar na questão de proteção, diminuição da erosão ou até mesmo para a questão da alimentação animal.