Até 80% das mortes de animais silvestres acontecem durante resgates irregulares, alertaram especialistas durante o 2º Encontro Rio-Grandense sobre a Fauna Selvagem, realizado nesta quarta-feira (18) em Passo Fundo, no norte gaúcho. O evento, promovido pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS), reúne médicos veterinários, secretários municipais, órgãos ambientais e ONGs.
Segundo o médico veterinário e presidente do CRMV, Mauro Moreira, essas mortes acontecem pela imperícia das pessoas, que muitas vezes querem ajudar e não saber como fazer. Por isso, a Comissão de Animais Silvestres e Desastres do CRMV-RS orienta os profissionais para essas situações.
— É importante conhecermos os principais animais silvestres que vivem em vida livre, principalmente pelas doenças que eles podem transmitir para os seres humanos. Muitas vezes, as pessoas ao encontrar um animal silvestre e começam o tratar como pet, como um cão ou gato, porém ele não é um animal domesticado, é de vida livre — explicou Moreira.
Além do risco de causar a morte desses animais, a domesticação da fauna silvestre também é um crime ambiental.
— Muitas vezes as pessoas trazem animais de outros estados sem saber os prejuízos que isso ocasionará em nossa fauna. Um exemplo são as cobras. É importante salientar que nesses casos, além dos prejuízos ao animal, as pessoas estão comentando um grave crime ambiental. Animais silvestres não são e não podem serem tratados como pets — pontuou.
Problemas com javalis
Moreira destacou ainda a importância de trabalhar o assunto com o agronegócio, visto que é comum haver conflito entre o setor e os animais silvestres. Ele aborda a questão dos javalis, espécies que não são originárias do RS ou do Brasil, mas que prejudicam lavouras, além de atacar outros animais que fazem parte da fauna nativa.
Em agosto deste ano, o Ibama suspendeu todas as licenças já emitidas e novas para a caça dos javalis. Conforme o órgão, a decisão foi tomada em virtude de mudança no processo de licenciamento, que passará a ser feito pelo Exército Brasileiro.
— A gente entende como profissional da área que a caça dos javalis não é uma solução efetiva e não é um meio de controle. O Estado precisa, junto com pesquisadores e veterinários, descobrir uma forma realmente efetiva para o controle desses animais, pois se reproduzem rapidamente, o que de forma progressiva vem se tornando um grande plantel—explica Moreira.
Segundo o médico veterinários, muitas regiões estão sendo afetadas pelo descontrole populacional desses animais.
— Estudos já mostram um grande índice de tuberculose nesses javalis. Muitas vezes, os caçadores comem esses animais ou transformam em subprodutos, como salame. Estamos comunicando a Secretaria Estadual de Saúde para que ela comunique o Ministério da Saúde da preocupação no consumo dessa carne.
Serviço
Se houver necessidade de resgate de animal silvestre, a orientação é comunicar a Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patram), pelo telefone (54) 3335-8350.