No dicionário, acolher significa oferecer refúgio, proteção e amparo, mas para aquelas pessoas que se dedicam e se doam pelos outros a palavra também pode ser sinônimo de amor. Exemplo disso é o projeto Família Acolhedora que busca pessoas que tenham carinho, tempo e disposição para cuidar e oferecer um lar temporário especialmente para crianças que vivem em abrigos.
O serviço atende crianças e adolescentes de zero a 18 anos incompletos que foram afastados das famílias de origem através de medidas protetivas e por isso vivem em instituições. Quem escolhe se cadastrar no serviço tem como dever cuidar, proteger e oferecer um lar temporário a essas crianças.
Em Passo Fundo, o casal Angelita e Alceri Sutili decidiu passar por essa experiência e transformar a vida de uma criança e também a deles. O casal acolheu por seis meses uma bebê de apenas dez dias de vida.
— Ela veio do hospital direto pra nossa casa, perdida. Nunca teve contato com o pai e mãe. Os primeiros dias foram um pouquinho complicados, mas o amor cura tudo. Foi como retornar ao passado, reviver conceitos de amor, de carinho de doação. Foi algo assim maravilhoso e divino — conta Alceri.
Para eles uma experiência intensa, cheia de amor e agora de boas lembranças, já que o acolhimento encerrou há poucas semanas. Apesar da saudade, o casal está feliz em saber que a bebê foi adotada e encontrou um novo lar também repleto de carinho.
— Foi uma experiência surreal, de muito amor. A gente imaginava estar ajudando essa bebê, mas na verdade ela nos trouxe mais alegria, mais disposição. O nosso lar ficou diferente —relembra Angelita.
Em Passo Fundo, o serviço existe há dez anos e neste tempo cerca de 30 famílias já foram habilitadas e mais de 40 crianças e adolescentes acolhidos. Atualmente, apenas três famílias acolhedoras estão habilitadas no município.
Segundo a secretária adjunta de Cidadania e Assistência Social, Elenir Chapuis, Passo Fundo tem hoje cerca de 20 crianças e adolescentes vivendo em dois abrigos da cidade e esperando pela oportunidade do acolhimento familiar. A ideia do serviço é oferecer um atendimento mais humanizado aos acolhidos no momento que eles mais precisam de cuidado e proteção.
— É um período que ela é retirada da sua família, da sua escola, dos seus amigos, em algumas circunstâncias até da sua cidade e ela precisa ir para um espaço e permanecer durante um período até que seja definida sua situação. Uma família ou uma pessoa acolhedora pode fazer isso de uma maneira muito mais humana, mais próxima e muito mais afetiva talvez do que uma instituição, porque por mais que a instituição esteja sempre buscando ofertar isso, ela tem várias crianças acolhidas ao mesmo tempo — explica Elenir.
Para fazer parte da Família Acolhedora é preciso atender alguns critérios como ter entre 21 e 65 anos de idade e não ter interesse na adoção. Não há restrição de sexo ou estado civil, mas acima e tudo é preciso estar disposto a dedicar tempo, carinho e cuidado. A pessoa habilitada no serviço assume todos os direitos e deveres legais pelo acolhido e tem o acompanhamento e apoio de uma equipe técnica.
Em relação às crianças e adolescentes, após o acolhimento alguns tem a oportunidade de retornar às famílias de origem, caso contrário são encaminhados à família ampliada (como tios, tias, primos, etc) ou para adoção. O tempo de acolhimento varia de acordo com cada caso. Pode durar apenas alguns dias ou ser estendido pelo tempo necessário para regularizar a situação da criança ou adolescente acolhido. Todo o trabalho é acompanhado por uma rede de proteção que inclui o Poder Judiciário e o Conselho Tutelar.
Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento Social, 32 cidades gaúchas têm o serviço. No ano Passado, 121 pessoas foram acolhidas no Rio Grande do Sul, mas não há uma estatística de quantas ainda estão à espera de acolhimento. No Brasil, cerca de 30 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos. Apenas 5% tiveram a oportunidade de conviver com Famílias Acolhedoras, segundo o portal Coalizão pelo Acolhimento em Família Acolhedora, que reúne um grupo de gestores, pesquisadores e lideranças nacionais no assunto e tem o objetivo de promover a ampliação do acolhimento familiar no Brasil.
O projeto Família Acolhedora é uma política pública de estado, está na Resolução 109/2009 que aprova a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais. De acordo com o artigo 88 do Estatuto da Criança e do Adolescente, cada município organiza seus serviços de acolhimento e tem autonomia para definir a implantação da iniciativa nas cidades. Para regularizar o funcionamento do serviço é necessária a criação de uma lei municipal. Em Passo Fundo, cada família recebe um subsídio de um salário mínimo e meio.
Quem pode ser Família Acolhedora?
- Pessoas entre 21 e 65 anos de cidade, respeitando a diferença de 16 anos entre a crianças ou adolescente acolhidos e o adulto responsável;
- Não ter interesse em adoção;
- Morar em Passo Fundo
- Ter bons antecedentes
- Ter boas condições de saúde
Onde me cadastrar?
É possível se cadastrar pelo site da prefeitura de Passo Fundo que também traz mais informações sobre o serviço.