Benefícios como massagem no escritório, modelo híbrido e folga no dia do aniversário têm feito parte da realidade de empresas que procuram atrair colaboradores da geração Z, período que inclui aqueles que nasceram de 1995 a 2012.
Nativos do ambiente digital, esses jovens entraram no mercado com a promessa de trazer consigo transformações profundas nas estruturas de trabalho. É o caso do novo termo cunhado pela GenZ, que chamou a atenção nas últimas semanas na internet: "CLT Premium".
Impulsionado por criadores de conteúdo online, a gíria refere-se à remuneração e benefícios "avançados" da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) ao incluir vale-refeição e alimentação com valores altos, plano de saúde e academia de graça, entre outros.
Quando usado, o termo demonstra a relevância de ter os esforços recompensados — uma perspectiva nova à geração que deu luz aos termos quiet quitting (demissão silenciosa) e quiet ambicion (ambição silenciosa) — formas de demonstrar o desinteresse de trabalhadores jovens em crescer profissionalmente.
Para a professora do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Passo Fundo (UPF), Anelise Rebelato Mozzato, o termo "CLT Premium" nada mais é do que um plano de benefícios sociais além dos exigidos por lei oferecido pelas empresas aos trabalhadores.
Segundo Anelise, há muito tempo se fala entre os profissionais da área de Gestão de Pessoas e Psicologia Organizacional sobre a necessidade de investir nos planos de benefícios das organizações.
— Um dos objetivos desse movimento é justamente atrair e reter profissionais. Com a evolução da sociedade, as necessidades das pessoas vão mudando, assim como as suas motivações para a vida e para o trabalho. A mudança do portfólio de benefícios oferecidos aos trabalhadores deveria ser mais do que natural — salienta a professora.
Transformação (incluindo a dos benefícios) é natural, diz pesquisadora
Há uma tendência das gerações mais antigas de acharem esses benefícios diferenciados "uma grande bobagem", relatou Annelise. Ao mesmo tempo, a ideia de ficar 10 anos em uma mesma empresa já não atrai mais quanto a liberdade de experimentar novos desafios em diferentes locais.
Prova disso está nos números do Cadastro Geral de Empregos (Caged). Em Passo Fundo, 5.868 jovens entre 18 e 24 anos foram admitidos entre janeiro e maio. Em contrapartida, 77% (ou 4.519) desses jovens foram desligados no mesmo período.
Por isso, a orientação é de que, ao se pensar em um plano de benefícios sociais para uma organização, se contemplem as necessidades de todas as gerações, além de revê-los e repensá-los constantemente.
— Escuto muito as pessoas falarem "No meu tempo tudo era diferente", e era diferente mesmo, mas estamos em constante evolução e no mundo do trabalho não é diferente. Ter a mente aberta ao novo é fundamental. Não é modismo, não é luxo. É apenas um padrão diferente de comportamento — observa Anelise.
Aprendizado e perspectiva de crescimento
Além dos benefícios diferenciados, a permanência da geração do imediatismo no mercado de trabalho também está relacionada ao aprendizado e à perspectiva de crescimento rápido dentro da empresa.
A psicóloga e especialista em psicologia organizacional e do trabalho, Bruna Zanotto Casagrande, conduz processos seletivos para vagas dos mais diferentes níveis, partindo de posições operacionais, administrativas, negociais, estratégicas e até cargos de liderança entre diferentes idades e gerações.
Segundo ela, há uma busca significativa das gerações mais antigas por cargos de liderança. Os jovens, em contrapartida, buscam pela movimentação acelerada de cargos e salários.
— Atualmente, dentro da geração Z, percebo muitas buscas voltadas às posições de Analista e Especialista. Os candidatos geralmente possuem formações avançadas e conhecimento técnico da área — comenta.
É dentro das empresas que estes jovens podem se desenvolver ainda mais e gerar novos frutos e ideias para impulsionar o negócio. A psicóloga cita o exemplo de empresas que custeiam o valor, ou parte dele, de cursos e especializações para os colaboradores.
— Uma opção pode ser a formação por um MBA In Company, que é a possibilidade de diversos colaboradores se especializarem de forma conjunta. Além disso, também de estar oferecendo a oportunidade para os profissionais participarem de feiras e eventos voltados a sua área de atuação — complementa.
Nascidos em uma era de grandes movimentações digitais, atuar com profissionais da geração Z pode ser um grande aprendizado e sinônimo de inovação. Casagrande pontua que a união desta geração com as demais pode possibilitar entregas bastante significativas com olhares dinâmicos.
— Atuar com profissionais mais jovens, possibilita o elo perfeito entre o dinamismo e a celeridade nos processos. É uma geração que já vem com olhar mais voltado ao tech mas que também possui fácil adaptação às diversas demandas que podem surgir no seu cotidiano — relata Bruna.
Mais benefícios
Nem todas as empresas têm a oportunidade de oferecer um emprego 100% remoto ou híbrido. Com isso, é preciso criar um ambiente saudável e atrativo para que a nova geração se interesse pela vaga.
Há mais de 18 anos, Eduardo Debona é proprietário de uma agência publicitária no centro de Passo Fundo. Atualmente, a empresa conta com colaboradores na faixa etária entre 18 e 46 anos. Ele comenta que o compromisso de entregar trabalhos de excelência torna a rotina puxada e que, por isso, foi necessário encontrar uma forma de amenizar o cansaço.
— Para deixar o dia a dia mais leve diante de tantas responsabilidades, implementamos alguns benefícios como massagem no local de trabalho, ginástica laboral, horário reduzido e flexível, além de day off no dia do aniversário e happy hour para que os colaboradores possam conversar sobre outros assuntos além de trabalho — disse.
Segundo Debona, a maior dificuldade ainda é encontrar jovens qualificados e com vontade de se desenvolver profissionalmente e pessoalmente.
Dentro da realidade da agência, o colaborador mais antigo já completa 12 anos de empresa aos 34 anos de idade. O proprietário vê a permanência das gerações no mercado de trabalho como algo relativo de acordo com as últimas experiências.
— Nos últimos quatro anos tivemos duas contratações de pessoas acima dos 45 anos. Umas dela ficou apenas um ano e três meses na empresa, enquanto que a outra já completa mais de dois anos. Nesse mesmo período, contratamos dois jovens entre 18 e 19 anos. Um deles trabalhou por um ano com a gente e o outro já está completando três anos de agência — conta.
Com a união de diferentes gerações dentro do mesmo ambiente de trabalho é comum que opiniões divergentes surjam pelo caminho. A psicóloga Bruna relata a importância da integração entre os colaboradores de diferentes idades e como a empresa pode atuar para que a adaptação seja eficiente.
— Quando a empresa tem a sua cultura e valores claros ao recrutar novos colaboradores, a busca se torna mais assertiva e há grande possibilidade que a adaptação deste profissional seja mais efetiva. Uma ideia é ter guardiões dessa cultura em cada setor e desenvolver uma trilha de integração e alinhamento com os novos trabalhadores. Desta forma as diferenças se tornam menores e a integração entre estes profissionais mais leve — orienta.
Como pensam as diferentes gerações
O questionamento e a curiosidade fazem parte do comportamento da nova geração, enquanto que as gerações mais velhas preferem estruturas organizacionais mais tradicionais. Além se adaptarem facilmente ao trabalho remoto ou híbrido, os jovens também valorizam o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Segundo a professora universitária Anelise, os fatores podem variar de acordo com questões culturais, sociais, econômicos e individuais.
Há um ano e meio, Ana Carolina Piana, 19, iniciou a sua jornada como CLT no mercado de trabalho em Passo Fundo, no norte gaúcho. Para a estudante de jornalismo, algumas empresas têm dificuldade de acompanhar as novas tendências e necessidades da geração atual.
Ela cita como exemplo o trabalho híbrido e a importância de alguns setores que até pouco tempo não existiam, como o marketing. Assim como a maioria dos jovens da nova geração, Ana valoriza oportunidades de emprego com flexibilidade de horários, de modelo híbrido, com benefícios como vale-alimentação e que a valorizem como profissional.
— É importante que a empresa apresente uma perspectiva de crescimento em cargos e salário, além de um ambiente saudável. Não me vejo por mais de cinco ou 10 anos numa mesma empresa, não gosto muito da proposta de não ter mudanças em tanto tempo. Futuramente almejo trabalhar em uma empresa com outros tipos de benefícios também como massagem e day off no aniversário — comenta.
Trabalhando há nove anos em uma empresa do ramo de agronegócio, Anna Taila Souza da Rosa, 37 anos, acredita que companhias com planos de carreira bem definidos oferecem clareza, motivação e valorização, evitando a rotatividade entre os profissionais.
Entre os pontos principais que a empresa deve oferecer para garantir a permanência do colaborador, Anna Taila cita boas ferramentas e equipamentos para desempenhar as atividades, ambiente de trabalho saudável e colaborativo, além de liderança humanizada.
— Dependendo das circunstâncias, eu consideraria em atuar como Pessoa Jurídica (PJ). Gerir o próprio negócio deve ser desafiador e proporciona um crescimento pessoal, intelectual e profissional muito significativo. No entanto, a estabilidade de um emprego CLT, com salário fixo e benefícios me deixa confortável — afirma.