Em uma ilha sem internet e contato com o mundo externo, a estudante de Ciências Biológicas da Universidade da Fronteira Sul (UFFS) passou cerca de um mês para analisar o comportamento de animais marinhos. Mel Christine Oliveira Pires, 21 anos, esteve no arquipélago de São Pedro e São Paulo, um conjunto de ilhas localizado entre o Brasil e a África, a quatro dias de viagem (1,1 mil quilômetros) da costa de Natal (RN).
A jovem embarcou em 30 de dezembro e retornou ao continente no dia 20 de janeiro. No arquipélago, ela analisou sobre a presença de metais pesados no organismo dos peixes marinhos atum amarelo e cavala. Seu objetivo inicial era observar golfinhos nariz-de-garrafa e avaliar a biodiversidade das águas no arquipélago, mas a ideia precisou ser adaptada, uma vez que os animais migraram da ilha por conta da presença de tubarões.
— Pela manhã havia pesca e fomos coletando pequenas amostras para análise. Mesmo tão afastado da costa, eles já têm algum tipo de contaminação. É algo que afeta diretamente a gente, que consome (essa carne). A OMS (Organização Mundial da Saúde) ainda não tem dados tão precisos quanto ao que podemos ou não consumir, se já estamos ingerindo de alguma forma esses metais. Mas vamos terminar de analisar (os dados) no campus — disse.
As amostras coletadas durante a viagem de estudos foram trazidas para a universidade, onde estão sendo analisadas. Essa pesquisa fará parte do trabalho de conclusão de curso (TCC) da estudante.
Treinamento intenso para viver a experiência
Para estar no local, Mel precisou passar por um treinamento de 15 dias na capital potiguar e fazer uma série de exames médicos e psicológicos. Entre as capacitações, os pesquisadores são submetidos a aulas de primeiros socorros e técnicas de sobrevivência. Ao final, é preciso passar por um último teste: permanecer 16 horas no mar.
— A gente vai nadando até um barco e ficamos próximos a uma ponte. O local tem 10 metros de profundidade e fica distante 200 metros da costa. A ideia é de resistência mesmo, ficamos lá molhados, com equipe médica a postos em caso de necessidade, e supervisores passam pra vermos se estamos bem ou queremos desistir. Mas é preciso resistir — relata a jovem.
A pior parte, segundo Mel, foi a viagem de deslocamento até o arquipélago. Partindo de Natal e passando por Fernando de Noronha (PE), são cerca de quatro dias até chegar na ilha.
— O barco foi muito difícil, eu passei muito mal. Nunca tinha feito uma viagem tão longa assim. Eu fiquei a maior parte do tempo deitada, e não conseguia me alimentar — relata.
Ao chegar ao arquipélago, Mel e outras três pessoas ficaram em uma estação científica que hospeda e dá suporte a pesquisas de todo o mundo. Trata-se de uma casa simples com um quarto, banheiro, cozinha e sala. Também há uma lavanderia, o laboratório e uma pequena varanda.
Conforme Mel, o local tem capacidade para até seis pessoas, mas costumam ser hospedados grupos de quatro integrantes. Sem contato com o mundo exterior, ela relembra sobre como é viver tão longe do continente e os detalhes da rotina:
— O céu é muito estrelado porque como é uma escuridão completa durante a noite, não tem luz nenhuma. Mas acaba sendo monótono, não temos internet, só temos uns aos outros e as horas demoram a passar. Eu dormia assim que o sol se punha e acordava com a luz do sol e barulho dos pássaros, e assim passamos 19 dias por lá.
Apesar de desafiadora, a experiência não desestimulou a pesquisa da estudante à vida marinha. Mel conta que voltaria para a ilha para fazer outra análise, caso tivesse oportunidade.
— Mesmo cansativo, é algo legal e incrível. Quero fazer um estágio na área e manter o contato com animais marinhos — pontuou.