A preocupação de tutores sobre onde deixar os animais domésticos quando estão fora de casa abriu espaço para uma nova oportunidade de mercado: a de pet sitter — ou "babá de pets", na tradução literal.
Na prática, são profissionais contratados pelos tutores para hospedar os animais de estimação em suas casas, levar passear ou passar no local dos animais para dar comida, carinho e limpar a caixa de areia, por exemplo.
Sem exigência de formação ou conhecimento aprofundado sobre os animais, trabalhadores e estudantes de diferentes ramos recorrem à área para impulsionar a renda. É o caso da estudante de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF), Alissa Schmidt San Martin, 27 anos.
Foi em 2019, enquanto morava em Recife (PE), que a estudante conheceu um aplicativo que unia tutores de pets a pessoas que gostavam de animais e que tinham disponibilidade de auxílio ou hospedagem.
Gaúcha de Dom Pedrito, a mais de 500 quilômetros de Passo Fundo, no norte gaúcho, Alissa afirma que o trabalho de pet sitter foi uma forma de incrementar a renda e se sentir mais próxima dos animais.
— Uma colega me apresentou o aplicativo e eu adorei a ideia, porque o meu cachorro estava longe de mim. Assim o coração poderia ficar um pouco mais quentinho. Eu comecei a fazer esse trabalho pelo aplicativo quando morava em Recife e continuei depois que me mudei para Passo Fundo, durante a pandemia — conta.
Após ficar conhecida no ramo e ganhar confiança entre os pais de pet, Alissa começou a atender a alta demanda em formato particular, sem o auxílio do aplicativo:
— Em meados de 2022 eu decidi parar totalmente com o aplicativo e atender os pets somente com agendamento particular. Não estava mais conseguindo dar conta das solicitações do aplicativo e mais as que eu recebia por fora. Além do mais, o aplicativo também cobra uma taxa relativamente alta do cliente, então para os tutores valia mais a pena essa solicitação direto comigo.
Adaptação e renda extra
Com dois cães adotados em casa, Alissa explica que para receber outros animais em sua residência exige preparo e tempo de adaptação.
— Eu sempre tento realizar um pré-encontro com os tutores e com o cachorro, para entender um pouco da rotina do animal. A ideia é que aqui no meu apartamento eles tenham a mesma vida que têm em suas casas, com seus donos — conta.
Para a adaptação, ela deixa os seus cachorros e os animais do cliente no mesmo cômodo. Com o tempo, eles cansam e perdem a vontade de demarcar território, o que facilita na adaptação.
A função de pet sitter é a única atividade remunerada da estudante, por conta dos horários da faculdade. Com duas modalidades, a de visitação em casa e a de hospedagem, Alissa afirma sempre conversar com os tutores para acertar os valores, dependendo da quantidade de animais que necessitam de cuidados.
— Para ir até a casa da pessoa e cuidar do animal, como os gatos, que não recebo aqui em casa, eu geralmente cobro R$ 30 por uma hora de trabalho. Isso inclui brincar com o animal, dar comida, lavar bebedouro, coisas assim. Já os cães, que recebemos aqui, o valor é de R$ 75 a diária — disse.
Hobby que virou profissão
Aos 38 anos, Franciele Santos decidiu mudar a profissão após entender que um hobby poderia se transformar em algo mais sério. Graduada em Administração, a empreendedora deixou a atividade que exercia em uma clínica odontológica em Passo Fundo para passear com os pets e abrir uma creche que oferece hospedagem.
Tudo começou há sete anos quando alguns vizinhos lhe pediram para cuidar dos animais durante os finais de semana e feriados. A atividade começou a se tornar rotina e Franciele dividia o emprego de gerente administrativa na clínica odontológica com o de pet sitter durante o horário do almoço e nos finais de tarde.
— Eu sempre tive o sonho e interesse de ser dona do meu próprio negócio. Só que o medo falava mais alto. Quando você é um funcionário CLT você tem uma garantia e quando você arrisca a abrir o seu próprio negócio você tem que se organizar financeiramente. Foi através do apoio da minha família que eu decidi abrir um creche com hospedagem, após anos como pet sitter — conta.
Durante o recesso da empresa em dezembro de 2023, Franciele decidiu fazer uma experiência inicial e receber alguns animais em casa. Foi neste momento que ela decidiu que queria seguir no ramo.
— Eu abri a creche no dia 21 de dezembro. Na volta do recesso eu pedi demissão e hoje me dedico exclusivamente ao meu negócio. Percebo que tem crescido mês após mês. A demanda é realmente grande. Muitos dos meu clientes que me chamavam quando eu era apenas pet sitter hoje trazem seus animais aqui porque tem confiança e é algo mais familiar — disse.
Requisitos para se tornar um pet sitter
- Entender o tempo dos animais. É comum que eles demandem alguma paciência até compreender que o pet sitter vai cuidá-lo como seus próprios tutores.
- Estar preparado para alimentá-los, lavar a caixinha de necessidades e brincar (muito!). Quando ficam longe dos tutores, gatos e cachorros demandam mais atenção de seus cuidadores. Além do trabalho de lavar bebedouros, dar comida e trocar areia, é essencial estar aberto a passar um tempo de qualidade com os bichinhos.
- Amar os animais. Essa é fácil: não basta querê-los bem ou achá-los fofinhos, é preciso amar e entender que todos merecem a devida atenção e o cuidado para ter a qualidade de vida necessária.