Com o auxílio da tecnologia por meio de programas de segregação, a Biotrigo Genética, de Passo Fundo, lançou recentemente uma nova cultivar de trigo específica para malte no Brasil. Aprovada neste ano, na 16ª Reunião de Trigo, a cultivar está em produção de semente básica e deve entrar no mercado das indústrias no segundo semestre de 2024, após a safra de inverno.
A cultivar é licenciada para a Cooperativa Agrária, de Guarapuava (PR), e futuramente estará à disposição da indústria. A Biotrigo Weiss, como é denominada, se diferencia de outras cultivares que visam a panificação. A cultivar possui baixa porcentagem de proteína, o que é considerado um fator fundamental para o malte, além de apresentar bom rendimento e um ciclo médio/tardio.
Essa vai ser mais uma opção para potencializar a cadeia produtiva. De acordo com a gerente de desenvolvimento de produto para indústria da Biotrigo Genética, Kênia Meneguzzi, a cartela de tipos de cervejas cresceu nos últimos anos e tornou o trigo para malte um mercado a ser explorado. Segundo ela, o custo da produção, por ser nacional, tende a ser menor.
— Se comparado com 2021, a gente tem 19% a mais de tipos de cerveja. Não é apenas o trigo, é dividido de diferentes formas, cevadas. É um mercado a ser explorado. A gente já tinha percebido uma tendência das maltarias artesanais na busca por trigo para fazer a malteação — declara.
Alguns critérios foram estabelecidos para atender aos parâmetros de qualidade, segundo Kênia. Entre eles, estão a proteína baixa e o grau de resistência condizente para não ser contaminado, entre outros.
— A cultivar tem que ter os aspectos agronômicos atendidos, mas os de qualidade também. Ela precisa ser resistente à giberela (fungo), porque os grãos não podem estar contaminados. Precisam de bom peso hectolítrico, com baixa proteína. Na verdade, o trigo é suave, beneficiando o processo de malteação. A água permeia mais fácil no grão, fazendo com que o processo de germinação controlada para malte aconteça de forma mais rápida — explica.
Resposta ao mercado com eficiência na produção
O surgimento de um novo mercado é, também, uma resposta à demanda industrial. Segundo o gerente comercial para a América Latina da empresa, Fernando Michel Wagner, quando se fala em mercado de nicho, sobretudo com trigo, é necessário olhar para as especificações. Por isso, o trabalho de performance e de melhorias da empresa visa atender a expectativa do mercado.
— Os mercados do trigo exigem especificação. Neste sentido, temos pessoas que trabalham para melhorar o grão, para trabalhar a performance nas indústrias, pinçando materiais para atender à especificação necessária. Buscamos entregar a necessidade delas (indústrias) — afirma.
Segundo Wagner, a nova cultivar possui o mesmo rendimento e produtividade que a mais semeada no Brasil. Para ele, esse é um dos principais pontos que vão diferenciar a cultivar no mercado, entregando a certificação para a indústria sem sacrificar a lucratividade do agricultor.
— A cultivar mais semeada no Brasil é a TBIO ponteiro. Ela é reconhecida por alta produtividade, mas a Weiss (cultivar) tem o mesmo rendimento e produtividade. O avanço no melhoramento, a maturidade, tudo contribui no sentido de entregar a certificação para a indústria, mantendo a lucratividade no campo. Isso faz com que esses mercados de nicho ganhem mais espaço — pontua.
Na mesma linha, o gerente lembra que uma outra cultivar já havia sido lançada no mercado de biscoitos, com a mesma característica de atender a indústria e não diminuir os resultados de produtividade ao agricultor.
— Em parceria com a mesma cooperativa, lançamos uma cultivar com essa característica para os biscoitos. A Weiss conseguiu fazer isso também, com um material que teve a indústria cervejeira e a maltaria como fator decisivo, aliando aspectos agronômicos e alta produtividade — completa Wagner.