Um documentário em produção em Ijuí, município de 84,7 mil habitantes do noroeste gaúcho, promete resgatar a história do futebol feminino na cidade. Contemplado pela Lei Paulo Gustavo de Incentivo à Cultura, o projeto "Posso Jogar?: o Futebol Feminino como Resistência" vai reunir depoimentos de jogadoras da década de 1980 até os dias atuais.
A produção toma forma em uma parceria entre a artista visual Rosana Berwanger e o jornalista Luiz Henrique Berger, que pretendem exibir o documentário nas escolas do município para mostrar os desafios e superações das mulheres no esporte. Quem conduz a narrativa é a jogadora Kellen Moraes, 28 anos, que joga pelo Esporte Clube Ijuí. Atualmente, o clube disputa o Gauchão Feminino.
— Eu comecei a jogar com cinco anos, não sabia o que era uma bola, minha bola era uma sacolinha de roupa. Mas o futebol me salvou, foi o que me tirou de uma situação abusiva em casa. Foi na escola, conhecendo o esporte, que eu enxerguei meu futuro — contou a atleta em entrevista a GZH Passo Fundo.
O desejo de Kellen é ver o futebol feminino evoluir. Para ela, a exibição do longa nas escolas é uma oportunidade de incentivar as jovens jogadoras e inspirar professores a ter um olhar de acolhimento e oportunidade.
— É bem difícil ainda ser mulher no esporte, mas está melhorando. Hoje a gente vê jogos femininos na TV, eu quando era mais nova nunca vi. Temos muito talento na região, quantas menininhas por aí não devem ter esse sonho? Então mostrar essa dimensão do esporte é muito importante — acrescenta.
— Estamos trazendo depoimentos de décadas atrás. A Kellen faz a costura da conversa entre diferentes gerações. Começamos com jogadoras mais antigas, que jogavam há 40 anos, até os dias de hoje. Naquela época também é quando começaram os registros 'oficiais' do futebol em Ijuí — explica Rosana.
Com o incentivo público, uma equipe dedicada ao audiovisual foi estruturada e trabalha para que a conquista feminina no futebol seja evidenciada pelos relatos das participantes.
— Tem histórias por vezes parecidas, seja porque em casa não tinha apoio ou porque eram xingadas por torcedores, e também a questão do assédio. A gente ouve uma moça de 28 anos e uma mulher de 60, e os relatos se aproximam. Queremos trazer à discussão a igualdade e o respeito às mulheres no futebol — pontua Berger.
É possível acompanhar a produção pela página do Instagram do documentário. A produção ainda não tem data para o lançamento.