Celebrado nesta segunda-feira (26), o Dia do Comediante ganha outra cara à medida que a palhaçaria feita por mulheres conquista espaço na cena do humor. Há pouco mais de 30 anos, palhaços homens eram a regra — e elas precisavam vestir-se com roupas masculinas para ter acesso aos palcos.
Em Passo Fundo, a atriz, produtora e professora Dani DalForno integra o movimento, que teve como pioneiro o grupo As Marias da Graça, do Rio de Janeiro. A trajetória da companhia começou em 1991 a partir de uma oficina de palhaçaria — a arte de provocar humor ao reproduzir o jeito desastrado e espalhafatoso dos palhaços.
Segundo a artista, o movimento começou como um "susto" aos espectadores. Mas, pouco a pouco, começou a crescer no Brasil. Nascia, ali, o caminho do que é ser uma "mulher palhaça" e por que fazer palhaçaria.
— Existe uma preciosidade imensa, que é fazer as pessoas rirem, e também rir das desgraças, porque se enxergam nelas. Nesse lugar de humor é onde conseguimos deixar a vida um pouco mais leve — conta a artista.
As leves e discretas
Mas, além da leveza, a arte da palhaçaria também serve para questionar culturas e regras sociais. É o caso do espetáculo As Leves e Discretas, fruto do projeto "Palhaça O Que É?", classificado no primeiro lugar do Funcultura, em Passo Fundo.
Na peça, as artistas Dani DalForno e Jandara Rebelatto contam a história de duas mulheres que decidem inaugurar um Centro de Tradições Gaúchas (CTG). Ali, se questionam sobre itens que estão no manual de regimento da tradição. Com tom cômico no início, o público é levado a refletir sobre os costumes e normas gaúchas, que ditam como as mulheres devem se portar e vestir dentro das entidades.
No enredo, enquanto fazem rir com as situações inusitadas apresentadas sob narizes de palhaço, as artistas abordam sobre elementos da cultura gaúcha e trazem uma reflexão sobre o machismo estrutural da sociedade brasileira.
— É um espetáculo que tem mexido muito com as pessoas, ouvimos depoimentos riquíssimos. O cômico tem a ver com isso, com a sensação de estar vivo, presente. Muitas pessoas nos procuram para dizer que a peça lembra a avó ou uma tia — afirma.
O espetáculo recebeu o prêmio máximo do Funcultura, iniciativa de valorização à cultura da prefeitura de Passo Fundo, em julho de 2023. Em novembro, a peça foi apresentada no Teatro Oficina Olga Reverbel, em Porto Alegre, e seguiu sua jornada em diversas cidades brasileiras.
As artistas, inclusive, devem apresentar o espetáculo em 9 de março, na Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), em Passo Fundo. O evento é uma ação da Associação das Promotoras Legais Populares de Passo Fundo — e uma prova de que não faltam espaços para mulheres que fazem o que amam e querem (especialmente comédia).