O morador de Passo Fundo, Gelso Muniz da Silva, 58 anos, chamou a atenção das redes sociais na última semana: ele foi fotografado de pilcha — as roupas tradicionais da indumentária gaúcha, como bombacha, camisa e guaiaca — em plena Praia dos Ingleses, em Florianópolis (SC).
"Esse é gaúcho de verdade" foi um dos comentários à publicação de Giovani Grizotti, repórter da RBS TV, no Facebook. Apesar das brincadeiras, Silva diz que não há nada de incomum na sua roupa: a pilcha faz parte do dia a dia do eletricista, de tal forma que calças ou camisetas comuns é que são exceção no armário.
— Eu estou sempre pilchado, há mais de 20 anos que vou pilchado para a praia. Eu não vou lá para me aparecer, mas porque estou sempre assim. Vou lá e, se tiver que entrar no mar, tiro a bombacha para fazer um mergulho e só boto um calção ou uma "ceroula", um negócio assim — contou a GZH Passo Fundo, com o legítimo sotaque gaúcho.
No dia em que foi fotografado, Silva foi para o mar de bombacha para brincar com a neta, Luísa, de três anos. Ele também lembra que já viajou para outros estados, sempre acompanhado da sua pilcha gaudéria.
— Aquele dia o sol estava muito quente e eu tava brincando com a minha neta. Daí eu botei a camisa também, pra não queimar muito o meu couro. Ah, quem me conhece sabe que eu me sinto muito feliz em representar o meu Rio Grande. Às vezes vou viajar para outros estados e estou sempre pilchado. Já andei por Curitiba, Goiás e no interior de São Paulo. Sempre foi meu jeito e sempre digo para o povo não esquecer das suas raízes — disse Muniz.
Só o macacão usado nas suas oficinas é tão comum quanto a bombacha no guarda-roupa do "Seu Brigadiano", apelido pelo qual é conhecido desde cedo, mesmo que ele nunca tenha tido relação com o meio militar.
— Eu tenho umas duas calça de "brim", umas duas três camisetas e uns tênis "guides" e Kichute, que são do meu tempo. No resto, é só pilcha. Eu sempre uso pilcha em qualquer parte que eu que eu estiver. Só no meu trabalho que eu boto uma calça velha e um macacão — conta.
"Graxeiro de beira de estrada com muita satisfação"
O humilde peão do Rio Grande, "graxeiro de beira de estrada com muito orgulho e satisfação", como se apresenta, nasceu em Ronda Alta, no norte do RS. É o caçula de 11 irmãos, sendo seis homens e cinco mulheres. Na infância, morou em diversas cidades do RS, SC e PR.
Há 30 anos mantém um negócio em Tio Hugo, cidade vizinha a Passo Fundo, onde se casou e teve duas filhas: a enfermeira Stefani e a estudante Victória. Por isso, diz ter "dupla cidadania": ele divide a vida entre as duas cidades do norte gaúcho.
— A gente está sempre no trecho aqui entre Passo Fundo e Tio Hugo — contou, bem-humorado, sobre o trecho de 40 quilômetros.
Mas a paixão por tudo que envolve a cultura gaúcha começou bem antes, aos 16 anos. Depois de morar em Santa Catarina e no Paraná, voltou para o Rio Grande do Sul, no município de São José do Herval, onde aprendeu a profissão de eletricista de veículos.
Um de seus irmãos foi o fundador do CTG Prenda Minha, hoje CTG Querência do Herval. Silva conta que, ao entrar no local pela primeira vez, se deparou com uma cuia de chimarrão "imensa" e, segundo ele, foi naquele instante que se apaixonou pelo meio.
— A cuia de chimarrão acho que cabia mais ou menos uns cinco quilos de erva dentro, um porongo que nunca mais eu vi na minha vida. Foi ali que eu me apaixonei por aquela cuia de chimarrão e começou meu tradicionalismo. Até hoje, são mais de 40 anos sempre com o gauchismo — disse.