Aos 167 anos de emancipação político-administrativa, Passo Fundo comemora feitos de quinta cidade gaúcha que mais cresceu no RS nos últimos anos e liderar a região com o segundo maior PIB do Estado — características construídas e estabelecidas ao longo das últimas décadas.
Em sua essência, o município nasceu como uma cidade que contribuiu inicialmente para a distribuição de mercadorias e foi se aprimorando nas áreas da saúde, comércio e na esfera social.
Para celebrar mais um aniversário da cidade, na quarta-feira (7), GZH Passo Fundo lembra a criação do município e as marcas da história que podem ser vistas até hoje. A partir desta segunda (5), serão três reportagens sobre as lendas, edificações importantes e personagens que construíram a Passo Fundo atual.
Como surgiu o primeiro povoado
Os primeiros registros de população na cidade datam de 1828, no entorno da Praça Almirante Tamandaré, no Centro. A região servia de caminho de tropas que transportavam produtos para todo o país.
Naquela época, Passo Fundo fazia parte do distrito de Cruz Alta. O decreto que criou o município só veio quase 30 anos depois, em janeiro de 1857, mesmo sem território definido nem organização política-administrativa.
Naquele mesmo ano, em 7 de agosto, foi instalada a Câmara Municipal, o que abriu caminho para a definição de território e a eleição dos sete primeiros vereadores. Passo Fundo se torna, então, um grande município: tinha 24 mil quilômetros quadrados, com território que se estendia desde o Rio Uruguai até Cruz Alta e Rio Pardo.
Naquele contexto, a cidade era chefiada pelo presidente da Câmara, cargo ocupado pelo vereador mais votado. O primeiro a ocupar a cadeira foi Manoel José de Araújo, o Capitão Araújo — homenageado anos depois com o nome de rua no centro.
Até a proclamação da república, a localidade era conhecida como Nossa Senhora da Conceição Aparecida do Passo Fundo, por conta do Período Imperial, com união de Estado e Igreja. A vila passa a ter o nome oficial de Passo Fundo em 1881, como lembra o historiador Djiovan Carvalho:
— Com a proclamação da república, em 1889, fica apenas o nome “Passo Fundo”. Ele se deu em virtude da gestão geográfica e topográfica do rio, que era fundo para passagem das tropas. Esse era o antigo caminho indígena, que depois é apropriado pelos tropeiros.
Como a cidade preserva sua história
Ao longo de seu território, algumas edificações mantém a história viva por meio da arquitetura. No bairro Boqueirão, prédios do século 19 fazem referência ao passado e mostram uma Passo Fundo de outros tempos. Na esfera privada há dois exemplos: a Casa Barão, de 1866, e a Casa Morsch, de 1877.
Já entre os espaços públicos há o chafariz da Mãe Preta, localizado no cruzamento das ruas Uruguai e Dez de Abril. Com a primeira canalização construída na década de 1860, ele acompanhou o desenvolvimento da cidade e de seu povo.
Inicialmente, a estrutura abastecia as casas da região e, mais tarde, passou a ser um ponto de referência para negros escravizados que buscavam ali água para consumo.
— Com aumento da população e do saneamento, ficou lembrado como espaço de referência à população negra. É um local com historicidade material e imaterial, porque tem lendas envolvidas do povo afro-brasileiro — comenta a coordenadora do Arquivo Histórico Regional, Gizele Zanotto.
Já nos exemplares do século 20 há o prédio do Museu Histórico Regional, inaugurado em 1911. O conjunto de prédios fica no centro de Passo Fundo, na Avenida Brasil, entre as ruas Teixeira Soares e Quinze de Novembro.
Ali funcionou a antiga intendência municipal e a prefeitura. A sede do governo permaneceu na área central até 1976, quando se muda para o prédio atual.
— Este é um prédio muito importante para pensar a história de Passo Fundo. Hoje não temos uma cultura “preservacionista”, de manter nossa história viva por meio da preservação de patrimônio — destaca Zanotto.
Uma terceira edificação ajuda a desenvolver outro lado da cidade: a Gare da Estação Férrea. Inaugurada em 1898, foi a partir da ligação com São Paulo, na década de 1910, que trouxe desenvolvimento socioeconômico à cidade e região.
— A chegada do trem não modificou a cidade imediatamente, mas foi a partir dele que foram pensadas práticas e políticas. A circulação monetária possibilitou crescimento em áreas como bancos, instalação de silos, moinhos, hotéis e cinema — pontua Carvalho.
Sem utilização por décadas, o local foi transformado em uma estação gastronômica em 2019. Outro setor revitalizado foi o antigo moinho, também na Avenida Sete de Setembro, que se transformou em um hub de inovação — marcas de que a cidade, recentemente, tenta preservar sua história.
— A cidade é constantemente alterada, está sempre em busca do moderno. E isso fez com que, ao longo da história, não houvesse iniciativas de preservação de arquitetura e paisagem. Ainda temos um longo caminho para atrelar o desenvolvimento com a preservação, e entender: o que nós estamos construindo hoje , que será escolhido para ter a marca do nosso tempo futuramente? — finaliza Djiovan.