Por professor Dr. Elmar Luiz Floss, diretor do Instituto de Ciências Agronômicas — INCIA
O Rio Grande do Sul, sofreu, em menos de seis meses, outubro de 2023 a maio de 2024, duas grandes enchentes. Especialmente, a de 2024, a maior desde que existem registros meteorológicos. É temerário dizer que foi a maior enchente da história do Rio Grande do Sul, pois antes de 1831 não temos nenhuma referência. Como as condições climáticas são cíclicas, não sabemos quantas enchentes ou estiagens ocorreram no Rio Grande do Sul e região, nos séculos anteriores a nossa existência.
Quando lembramos a triste imagem da região dos Vales dos grandes rios e, especialmente, a grande Porto Alegre, coberta de água, por aproximadamente 45 dias, não imaginávamos que fosse possível realizar a tradicional Expointer, no Parque Assis Brasil, em Esteio, que também estava coberto de água.
Com esforço de órgãos governamentais, mas especialmente, a inciativa privada, capitaneada pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas (Simers), a Expointer 2024, foi realizada. Nenhuma Feira no Brasil se viabiliza sem os investimentos das indústrias de máquinas agrícolas e dos grandes bancos. Mesmo, considerando que a Expointer tem em seu DNA mostrar a pujança da pecuária e a final do Freio de Ouro para cavalos.
De qualquer forma, foram surpreendentes os números finais divulgados: 661 mil visitantes e uma comercialização de mais R$ 8,1 bilhões. Quanto ao público, menos da metade dos visitantes são pessoas ligadas, direta ou indiretamente ao Agro. A maioria são curiosos, moradores da área urbana da grande Porto Alegre, que visitam para conhecer animais e novas máquinas, aproveitar a bela gastronomia e participar dos shows gratuitos, que voltaram nessa edição. Não adquirem máquinas, equipamentos ou animais. Talvez algum produto da Feira da Agricultura Familiar.
Surpreende, o volume de comercialização anunciado. Como podem agricultores que lutam por ajuda governamental, não pagam suas dívidas bancárias, ou empresas, ter investido tanto dinheiro com máquinas e equipamentos. Aliás, diante dos preços atuais dos grãos e as dificuldades financeiras, o principal fator para alavancar a agricultura e a pecuária gaúcha, não são novas máquinas e equipamentos.
De outro lado, também é correto imaginar, que a maioria dos agricultores gaúchos não tiveram sua produção afetada por enchentes, na última safra. Portanto, tem poder aquisitivo para altos investimentos. Estão capitalizados. É tão verdade que se estima, que 43% da última safra de soja, no Rio Grande do Sul, ainda não foi comercializada.
Lamentável mesmo, é ver que aqueles produtores, que perderam familiares, casas, benfeitorias, animais, máquinas, equipamentos, grãos e o próprio solo, devido as enchentes, ainda não tiveram suas dívidas perdoadas e nem receberam recursos para começar tudo de novo. Com prazo longo e juros baixos.
Os contrastes.
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