Por Aquillino Dalla Santa Neto, professor de Filosofia
As imagens do policial militar arremessando o indivíduo de uma ponte sem qualquer motivo aparente demonstrou o quanto o ser humano regrediu nos princípios éticos e morais ao priorizar a morte e desvalorizar a vida.
Mas e os direitos humanos que devem ser respeitados, independente da situação do outro? Bem, isso é outra questão que a maioria das pessoas, políticos e autoridades relutam para aceitar, ou seja, numa sociedade considerada moderna e civilizada, tal conceito não pode simplesmente deixar de existir por ter o propósito de estabelecer uma regra no comportamento pessoal de cada um, especialmente de quem veste uma farda e é pago para zelar pela segurança de todos.
É inadmissível que, em pleno século 21, movidos por uma ideologização grosseira, representantes da segurança pública agem deliberadamente em favor da volta da barbárie
É inadmissível que, em pleno século 21, movidos por uma ideologização grosseira, representantes da segurança pública agem deliberadamente em favor da volta da barbárie tão criticada pelos historiadores e sociólogos a qual achávamos que havia sido banida do convívio social, mas que pelo visto, foi ressuscitada nos mesmos moldes de frieza e maldade da época de Gengis Khan.
O problema é que o fato da ponte não se trata de caso isolado, pois somente no período de 30 dias aconteceram várias mortes no país em decorrência da violência e abuso de autoridades, escalados diariamente para combater o crime nas ruas, dos quais acabam se excedendo e provocando mortes de inocentes. Felizmente, nesse caso a vítima desses excessos não morreu, no entanto, resta saber o que irá acontecer com os responsáveis que provaram não ter o preparo necessário para exercer suas atribuições e sem “licença para matar”.
Para a psicanalista de Porto Alegre, Karla Nyland, especialista em atender familiares que perderam seus entes, vítimas da aids e covid-19, “A banalização da morte é antes a banalização da vida”, a partir do instante em que a perversidade é uma constante. Segundo ela, “vivemos um sintoma da crise de valores éticos de uma sociedade doente, alienada e alienante”. A profissional destaca ainda que “enquanto a vida não tiver seu devido valor, a morte será apenas mais um detalhe”.