Por Lisandra Pioner, professora e picopedagoga
E então um dia, de repente, tua filha está fazendo o Enem. É assim mesmo... de repente... pouquíssimo tempo atrás eu arrumava pro dia do cabelo maluco, comprava lanche pro piquenique da semana da criança, levava e buscava no aniversário da coleguinha, a via ensaiar exaustivamente a coreografia do Natal do colégio na sala de casa...
Pois nesse domingo aparentemente despretensioso, ela foi fazer o seu primeiro Enem. E ninguém nos prepara para esse momento. São anos e anos de um acompanhamento próximo, de um apoio firme, quando, sem mais nem menos, nos sentimos inúteis.
É o momento de acreditarmos — mais uma vez — que todo o incentivo, construção de autoestima e segurança serão usados por aquele serzinho que agora caminha com suas próprias pernas e trilha o seu próprio caminho
Podemos levar até o portão do local, preparar um lanche, desejar boa avaliação, encorajar, deixar claro que sabemos que aquela prova não define ninguém — embora seja inegável que abre portas! — mas nossas possibilidades vão até aí. É o momento de acreditarmos — mais uma vez — que todo o incentivo, construção de autoestima e segurança serão usados por aquele serzinho que agora caminha com suas próprias pernas e trilha o seu próprio caminho.
Se a gente antevisse a sensação desoladora de que não aproveitamos o suficiente, talvez faríamos mais... talvez fôssemos mais vezes até seu quarto no meio da noite, talvez deixássemos mais tempo brincando dentro da banheira, talvez permitíssemos mais sujeira na hora da comida, talvez tivéssemos pegado mais no colo, levado mais à pracinha, adormecido mais vezes em seu quarto...
Quintana já nos ensinava que se pudesse "iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas", mas a gente insiste em querer dominar tudo — cada período, ciclo, ocasião — e nessa tentativa, por tantas vezes exaustiva, perde-se tudo — inclusive tempo!
O que se faz agora? Utiliza-se toda essa experiência para permitir-se viver e deixar viver! Cada fase tem seu encantamento! E se a fase do vestibular chegou é porque ela cresceu, se desenvolveu e está (vi)vendo o desenrolar da sua própria vida.
Feliz de mim, por poder estar aqui (vi)vendo isso tudo.