Por Alexandre Elmi, jornalista
Trezentos corpos boiando em Canoas, retroescavadeiras destruindo doações, caminhões com donativos retidos em postos de fronteira — estes e outros absurdos circularam durante a inundação que atingiu o Rio Grande do Sul em maio, mobilizando mecanismos de verificação e combate a fake news. Mais do que um problema de comunicação, a calamidade informacional, que se agrava em momentos de comoção e crise, precisa ser vista como uma questão de gestão pública.
A desinformação aproveitou-se do cenário de desamparo e gerou ainda mais perturbação e desconfiança, interferindo na percepção a respeito do desastre e desafiando a credibilidade das ações e dos gestores
O termo infodemia caracteriza o estado de excesso e velocidade com que as informações circulam em espaços reduzidos de tempo e em meio a circunstâncias traumáticas. A palavra não é nova, começou a ser usada no início dos anos 2000. Em 2020, ganhou projeção internacional durante o caos instalado pela covid-19, quando foi aplicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ao estágio de confusão informativa e administrativa que se instalou no planeta com a doença.
Ao tratar do tema, a OMS alertou para os efeitos agravantes da infodemia sobre realidades já naturalmente caóticas. Em primeiro lugar, porque dificulta que fontes idôneas e orientações confiáveis sejam localizadas por quem precisa. A desorientação também leva a população a sentir-se ainda mais ansiosa, deprimida e sobrecarregada, ampliando a exaustão emocional.
Um terceiro fator nocivo: a infodemia afeta o processo de tomada de decisão e análise de evidências, justamente quando se espera respostas rápidas e precisas de gestores públicos e privados. Foi o que aconteceu no Rio Grande do Sul. A desinformação aproveitou-se do cenário de desamparo e gerou ainda mais perturbação e desconfiança, interferindo na percepção a respeito do desastre e desafiando a credibilidade das ações e dos gestores.
Tornar-se mais resiliente a crises, portanto, também requer um plano público e articulado de combate à desinformação. Educação midiática, checagem própria de fatos e distorções, colaboração institucional com plataformas e agências de verificação, fomento ao jornalismo profissional, combate jurídico a excessos — todos os antídotos combinados para minimizar o impacto negativo. Maluquices continuarão a circular, mas a população precisa estar mais consciente, protegida e preparada para conviver com elas.