Por Bruno Schneider de Araujo, presidente da Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul (Sorigs)
Nos últimos dias está especialmente fácil explicar como enxerga alguém com catarata. Imagine um dia típico de sol da primavera gaúcha: céu azul, limpo e de temperatura amena. O sol brilha sem impedimentos e a sua luz é branca. Agora imagine esse mesmo céu azul tomado por uma densa camada de fumaça e fuligem. O céu torna-se opaco e a luz solar é percebida pelos nossos olhos com tonalidades avermelhadas. É assim que enxerga alguém com catarata: as cores perdem sua vivacidade e a turbidez preenche o campo visual.
Por felicidade, atualmente o tratamento da catarata com a moderna tecnologia é capaz de restaurar a visão por completo em poucos minutos. Engana-se quem pensa que o procedimento é simples.
A realidade atual é que a cirurgia da catarata é o procedimento cirúrgico mais realizado no mundo, seguro e de alta satisfação
Ao longo de milênios, a catarata perturba a humanidade. Durante todo esse tempo, houve muito esforço para tratá-la, desde o surgimento de cirurgias rudimentares até o desenvolvimento de equipamentos altamente tecnológicos. A realidade atual é que a cirurgia da catarata é o procedimento cirúrgico mais realizado no mundo, seguro e de alta satisfação.
Para revelar o resultado do moderno procedimento a seus pacientes, é prática de muitos oftalmologistas, logo após retirar o curativo da cirurgia apenas algumas horas depois de sua realização, solicitar que o paciente olhe através da janela do consultório e admire a beleza das cores que compõem a nossa paisagem celeste. As reações a essa prática são as mais diversas e encantadoras possíveis.
Infelizmente, nos últimos dias, as intensas e históricas queimadas não nos permitem manter essa orientação, a fumaça toma conta de nossos olhos. Assim que essa neblina tóxica se dispersar, esperamos voltar rapidamente a essa contemplação. A solução para as queimadas compreende um esforço técnico, político e ético, em que a inspiração pode passar pelo empenho e a empatia dos médicos que se dedicaram à busca de devolver um mundo de cores e de limpidez àqueles que já não tinham a memória de como era bom contemplá-lo.