Por Jessica Prudente*, psicóloga, doutora em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e conselheira do Conselho Regional de Psicologia do RS
O caso do adolescente negro, gay e bolsista que se suicidou após sofrer discriminação e bullying sistemáticos em uma escola particular em São Paulo é o reflexo cruel das falhas na implementação de políticas efetivas de inclusão e proteção no ambiente escolar e demonstra a urgência de uma revisão e fortalecimento das medidas que garantam a segurança e o bem-estar de todos.
Precisamos entender o suicídio como produção social e não apenas individual.
A prevenção de tragédias como essa passa pela construção de uma sociedade antirracista, inclusiva, democrática e afirmativa das diferenças e dos direitos humanos
Em termos epidemiológicos, pesquisas mostram a importância dos determinantes sociais para entender os índices de riscos e modos de prevenção do suicídio: gênero, educação, uso de álcool e outras drogas, emprego, entre outros fatores. As razões para o fenômeno do suicídio são multifatoriais. É importante salientar que as taxas de suicídio são mais altas em grupos populacionais específicos (indígenas, população LGBTQIAPN+, pessoas em situação de privação de liberdade, população negra) e que vem ocorrendo um aumento expressivo de casos entre jovens de diferentes grupos populacionais. Então, pode-se dizer que as taxas de suicídio têm ligação direta com a desigualdade social, preconceitos, racismo, homofobia, ruptura de sistemas sociais de solidariedade, aumento da competitividade, com a angústia relativa ao modo de vida contemporâneo e falta de expectativas do futuro.
A prevenção de tragédias como essa passa pela construção de uma sociedade antirracista, inclusiva, democrática e afirmativa das diferenças e dos direitos humanos.
Assim, as instituições, que são predominantemente brancas, ricas e compostas em sua maioria por pessoas heterossexuais, precisam refletir sobre seu papel em uma sociedade diversa e desigual como a brasileira. É necessária uma revisão das políticas escolares e a implementação de programas educacionais que desenvolvam uma compreensão profunda do contexto social, econômico e histórico do país.
*Esse texto foi escrito em colaboração com Eduardo Silva Gonçalves, estagiário do setor de comunicação do CRPRS.