O Rio Grande do Sul celebra hoje os 189 anos da Revolução Farroupilha em meio aos esforços de reconstrução. Quase dois séculos depois da revolta contra o império, o Estado passa por um novo momento de inflexão em sua História. Desta vez, a luta é sem armas em punho e as motivações não são atritos com o poder central. As razões da campanha em curso são o reerguimento do Estado e a capacitação para torná-lo ainda mais próspero nas próximas décadas, preparado para enfrentar os extremos climáticos e uma terra de qualidade de vida e oportunidades para os gaúchos e os que aqui escolherem construir a sua trajetória.
O Rio Grande do Sul tem a chance de vir a ser reconhecido como modelo de preparação para as consequências das mudanças climáticas
Entre os desafios decisivos impostos aos rio-grandenses de hoje está o de executar grandes obras que evitem a repetição do que ocorreu em maio nas regiões mais suscetíveis a enchentes, além de recompor e qualificar a infraestrutura. Pela importância, alto custo e complexidade, são ações que devem obedecer a um planejamento de Estado, imune a descontinuidades ocasionadas por mudanças de governo e discordâncias políticas.
É aderente a essa lógica, de superar eventuais divergências em nome dos interesses maiores do Rio Grande do Sul, a governança definida pelos governos federal e do Estado de gestão compartilhada do fundo com recursos da União, de cerca de R$ 6,5 bilhões, para erguer e fortalecer sistemas anticheias no Estado. O Planalto administra o fundo, mas o planejamento, a contratação e a execução das obras serão responsabilidades do Piratini.
Há coerência na definição. É o próprio Estado, afinal, que melhor pode definir as prioridades para a alocação dos recursos. Ademais, o mapa estratégico de recuperação pós-enchente e de preparação para o futuro está concluído e consta no Plano Rio Grande, iniciativa aprovada pela Assembleia e que, portanto, virou lei. O planejamento vai contar ainda com as verbas do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), constituído em especial pelo dinheiro das parcelas suspensas do pagamento da dívida do Estado com a União, com um orçamento de R$ 4,2 bilhões para 2025. Ao contrário do que ocorreu no século 19, desta vez há um espírito de colaboração federativa.
Revolucionar significa empreender mudanças profundas. Muitas vezes, a despeito das dores e perdas que causam, grandes crises e tragédias são oportunidades para trilhar um novo caminho e endereçar soluções procrastinadas por governos e sociedade.
O Rio Grande do Sul, assim, tem à frente a chance de vir a ser reconhecido como modelo de preparação para as consequências das mudanças climáticas, de tornar-se protagonista no processo de transição energética e ainda de robustecer a sua infraestrutura, com reflexos positivos na economia nas décadas vindouras. Outra das revoluções necessárias é a da educação, para forjar cidadãos mais conscientes, produtivos e adaptados a um mundo em rápida transformação digital. Deve o Estado despertar de vez para a centralidade do ensino, tendo em vista a transição demográfica acelerada da população gaúcha. Junto à quebra de paradigma da politização perniciosa, são façanhas que fariam do Rio Grande do Sul um exemplo de recuperação exitosa.