Deve ganhar corpo a partir do próximo mês o debate sobre a proibição do uso de smartphones pelos estudantes nas salas de aula no Brasil. O país tarda a enfrentar essa discussão. A possibilidade de revisitar o tema a fundo se dará pela intenção do Ministério da Educação de enviar ao Congresso um projeto de lei prevendo o banimento dos aparelhos nos espaços de aprendizagem. Um dos objetivos é dar respaldo legal às escolas públicas e privadas que pretendam seguir por esse caminho.
A principal motivação para a proibição dos aparelhos é a distração que causa nos alunos, com reflexos no aprendizado
As restrições aos celulares no ambiente escolar, em alguns casos até nos horários de recreio, têm sido adotadas por crescente número de governos. Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre o tema aponta que um em cada quatro países já optou pelo veto aos smartphones durante as aulas, com exceções, como o uso monitorado para fins pedagógicos. A própria Unesco recomenda a limitação.
A principal motivação para a proibição dos aparelhos é a distração que causa nos alunos, com reflexos no aprendizado. Várias pesquisas confirmam os efeitos nocivos. Outro estudo, do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), trouxe resultados que confirmam a preocupação. Estudantes que passavam mais tempo absortos nas telas, com a atenção capturada por redes sociais e aplicativos de mensagens que a todo momento disparam notificações, prestavam menos atenção ao conteúdo ministrado pelos professores. Como consequência, tiveram notas mais baixas no teste.
A inquietação sobre prejuízos à aprendizagem e à construção de habilidades sociais, felizmente, também é compartilhada por pais e responsáveis. No Brasil, tornou-se conhecido o Movimento Desconecta, nascido em São Paulo, com mães de alunos de escolas particulares. O grupo prega a importância de a escola ser um ambiente livre de celulares. Mesmo no Rio Grande do Sul, cresce a quantidade de educandários a adotar essa medida. Também há casos de legislações estaduais e municipais. Em Porto Alegre, é uma proibição válida desde 2011, apesar de na prática ser ignorada.
Será válido e oportuno, portanto, que essa discussão se aprofunde, tenha repercussão e consequência, como uma maior conscientização dos pais, que deveriam dar exemplo e melhor orientar os filhos. No Congresso, o consenso a ser produzido deve ser o resultado de uma ampla discussão, com a consulta a especialistas com diferentes visões, autoridades e organizações da sociedade civil, para que os múltiplos aspectos sejam sopesados. Há inclusive educadores que têm dúvidas razoáveis em relação às consequências de um banimento abrupto. Não pode ser desconsiderado que tecnologia também é um instrumento que, bem utilizado, está a serviço do ensino. Ao que parece, há concordância até mesmo nas alas mais politicamente opostas no parlamento de que algo precisa ser feito.
Se as evidências científicas confirmam que o uso desmedido de smartphones em sala de aula obstaculiza a aprendizagem, é mandatório buscar soluções. Ainda mais no Brasil, onde educação é um gargalo limitador do desenvolvimento.