Por Luciana Fonseca, diretora do Instituto Cidades Responsivas
Seis dos oito objetivos estratégicos da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, criada em 2020 pelo Ministério do Desenvolvimento Regional em parceria com 130 instituições, contêm o verbete "Transformação Digital". Os outros dois tratam de sistemas de governança de dados e da necessidade primária de que todo cidadão tenha acesso às redes digitais.
Quatro anos depois, raros são os municípios que produziram a transformação digital necessária para tornarem-se mais inteligentes. Aliás, a imaturidade digital de parte significativa das cidades brasileiras é o maior impeditivo para que se alcance um planejamento urbano voltado à ação.
Em tempos que antecedem as eleições, o que se espera ver nos planos de governo, como fundamento de gestão para as cidades contemporâneas, é o delineamento de um modelo capaz de colocar em operação a transformação digital
Sabendo que a tecnologia de dados — núcleo duro desta transformação — pode tornar cidades inteligentes e responsivas, por que tantas administrações públicas tardam a incorporá-la? Falta consciência sobre sua necessidade e persiste a crença de que o velho modus operandi ainda é viável? Falta instrumentalização para lidar com softwares e linguagens de programação? Faltam subsídios? Falta priorizar o tema?
Se faltam ações e sobram cartilhas que "planejam o planejamento", não estaríamos diante da oportunidade de sair do mundo das ideias e irromper o mundo das coisas alcançando a ampla materialização deste novo e necessário modelo?
A palavra "inteligência" se refere à capacidade de se tomar as melhores decisões. Um sistema responsivo age a partir das escolhas dos indivíduos. A tecnologia é aliada neste processo, auxiliando na governança de dados, oferecendo as bases para a geração de mapas dinâmicos, possibilitando a implantação de sistemas de auto licenciamento, proporcionando ampliar a leitura dos padrões para a criação de cenários preditivos espaciais e ambientais. Em tempos que antecedem as eleições, o que se espera ver nos planos de governo, como fundamento de gestão para as cidades contemporâneas, é o delineamento de um modelo capaz de colocar em operação a transformação digital. Diante de tal oportunidade, façamos as melhores escolhas.