É tempestiva e pertinente a campanha institucional lançada na terça-feira pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI) voltada a prevenir a sociedade contra a disseminação de notícias falsas e conteúdos fraudulentos. Trata-se de tema que ganha relevância pela velocidade espantosa da evolução da inteligência artificial (IA) nos últimos meses e a aproximação de mais um processo eleitoral no país. A iniciativa intitulada “O direito e o dever de duvidar” faz um alerta para a importância de informações serem checadas com fontes confiáveis antes de serem compartilhadas, em especial pelas redes sociais.
É a melhor fórmula para combater de forma estrutural, com resultados consistentes de longo prazo, o mal causado pelas fake news
A campanha está baseada nos princípios da educação midiática. Ou seja, pretende conscientizar a população para o saudável exercício do ceticismo, no sentido de buscar a confirmação da veracidade do que é recebido antes de seguir disseminando o que pode ser apenas uma mentira produzida com o propósito de criar confusão e desinformação. Fazer com que os cidadãos despertem cada vez mais para a necessidade desse cotejo com os fatos, para que não se deixem enganar e não espalhem ainda mais o engodo, é a melhor fórmula para combater de forma estrutural, com resultados consistentes de longo prazo, o mal causado pelas fake news.
As ferramentas de IA generativa utilizadas para produzir vídeos, áudios e fotos se tornam uma fonte maior de preocupação, como aponta o manifesto da ARI. Abrem a possibilidade de indivíduos mal-intencionados, com o mínimo conhecimento técnico, produzirem conteúdos falsos colocando determinadas pessoas em situações inexistentes. Conhecidas como deepfakes, essas peças – adulteradas mas ultrarrealistas – têm o potencial de arruinar, por exemplo, uma candidatura. São, assim, um risco à livre formação da consciência do eleitor e, portanto, à própria democracia. Mas não se trata apenas de política. Fraudes relacionadas a informações sobre saúde e que podem levar a violência, da mesma forma, merecem atenção redobrada.
É nesse contexto que ganha importância a imprensa profissional, cujo maior patrimônio é a credibilidade. Veículos e jornalistas podem até errar, mas, quando isso acontece, o equívoco é logo corrigido. É onde há crítica interna e discussões éticas são rotina para produzir a melhor informação possível, com técnica, busca pela precisão e pela objetividade, além da missão de exercer a liberdade de expressão com responsabilidade. Ademais, a imprensa profissional está sempre sujeita ao escrutínio do público.
Vem da polarização exacerbada um dos grandes desafios para conter a desinformação. Está nessas franjas da sociedade a maior disposição para espalhar conteúdos que podem ser prejudiciais ao campo adversário, pouco importando se são falsos ou distorcidos. Nas redes sociais, os algoritmos completam o trabalho, impulsionando o que causa sensação. Usualmente parte dos extremos a tentativa de descredibilizar o jornalismo. Exatamente pelo princípio da imprensa de abrir espaço para o contraditório e expor fatos que muitas vezes contrariam as versões e a visão única que tentam calcificar.
Desconfiar e checar, para confirmar a veracidade de uma situação ou reconhecê-la como improcedente, é um exercício salubre para a democracia e a vida em sociedade.