Por Marcelo Meller Alievi, médico veterinário, professor titular do Departamento de Medicina Animal da Faculdade de Veterinária da UFRGS
Os bugios-ruivos, assim chamados pela cor vermelha-alaranjada do macho adulto, são primatas que vivem em pequenos bandos, alimentando-se principalmente de folhas de árvores e emitem um som característico, o ronco.
Tal como outras espécies, os bugios sofrem ameaças, destacando-se os choques envolvendo as redes de distribuição elétrica. Isso acontece, pois os bugios, em virtude da fragmentação e destruição do seu hábitat, acabam utilizando tais redes para atingir áreas de alimentação, descanso e interação social. Normalmente, os choques costumam ser fatais e, quando não o são, provocam lesões graves, que geram longos períodos de internação, que mesmo sob cuidados veterinários costumam ter como desfecho bugios sem dedos, mãos, pés e/ou cauda, ou seja, mutilados e, na maioria das vezes, condenados eternamente ao cativeiro.
O choque elétrico nos bugios não pode ser considerado um mero “acidente”, afinal trata-se de uma ocorrência evitável
Em 2023, o Preservas/UFRGS recebeu 11 bugios vítimas diretas de choques elétricos e três órfãos de mães eletrocutadas. Esses números já são assustadores, entretanto, representam a “ponta do iceberg”, pois envolvem apenas os animais que inicialmente sobreviveram à eletrocussão e que foram levados aos cuidados veterinários. Sem muito esforço, deduzimos que muitos mais caem mortos logo após o choque ou morrem agonizando nas matas, visto que o seu instinto, após trauma, é fugir para local seguro.
O choque elétrico nos bugios não pode ser considerado um mero “acidente”, afinal trata-se de uma ocorrência evitável se alguns procedimentos forem realizados. Entre eles, há a redefinição dos locais de passagem da rede elétrica, a substituição da rede convencional por redes isoladas, o recobrimento dos fios existentes, a realização de podas periódicas, afastando os galhos da rede elétrica e a instalação de pontes de passagem de fauna.
É difícil mensurar os danos das mortes e mutilações dos bugios para a sociedade, mas o que podemos afirmar é que são enormes, demandando atitudes concretas e urgentes das empresas de distribuição e fornecimento de energia elétrica, afinal, elas têm a responsabilidade de distribuir energia de maneira segura e ambientalmente adequada.