Por Daniel Randon, presidente da Randoncorp e do Conselho do Transforma RS
Após um longo jejum de crescimento robusto e de redução de presença no PIB brasileiro, dado o nosso custo Brasil e o fato de ser o setor de maior carga e complexidade tributária, a indústria nacional pode retomar seu protagonismo como geradora de empregos e de riqueza. O programa Nova Indústria Brasil chega em boa hora e promete dar suporte às necessidades há muito apontadas pela cadeia produtiva. A consistência virá se o governo implementar a parte de ordenamentos jurídicos e se tivermos projetos consistentes para acessar os recursos disponibilizados para inovação e sustentabilidade.
O programa Nova Indústria é positivo, mas requer mais simplificação e desburocratização para melhorar o ambiente de negócios e para não repetir erros do passado
A iniciativa é abrangente e abraça as dores da indústria em várias frentes, a começar pela produtividade e transformação digital, sempre passando pelas questões ambientais, como a descarbonização, no que o Brasil tem vantagens graças a sua matriz energética limpa. O setor automotivo ganhou incentivo adicional para descarbonizar a frota, além do programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que cria o IPI verde.
Formatado a várias mãos e cérebros, inclusive da própria indústria, através do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, o programa poderá gerar resultados efetivos na direção da modernização exigida pelo mundo globalizado.
A competição internacional busca uma revitalização que inclua a capacidade de integração de tecnologias digitais, maior automação e permanente inovação, com incentivo para que a indústria amplie o número de patentes. Daí a importância de modernizar o sistema de registro de patentes para torná-lo mais ágil e desburocratizado.
Não basta disponibilizar R$ 300 bilhões até 2026 – R$ 250 bilhões dos quais do BNDES –, abrindo as portas do crédito, sem atacar a complexa estrutura regulatória e tributária, que inibe investimentos. É essencial simplificar as normas e desburocratizar o ambiente de negócios com eficiência logística, energia e matérias-primas com menor custo, garantindo maior competitividade na cadeia da indústria em comparação a outros países, como a China.
Outro obstáculo a ser enfrentado é a baixa capacitação e desenvolvimento técnico da mão de obra, também previsto no plano. As tecnologias emergentes estão postas à espera de pessoal qualificado, o que envolve a intensificação de cursos de formação, treinamento e aperfeiçoamento para caminharmos mais rápido na direção da Indústria 4.0.
Recursos financeiros, naturais e humanos com gestão eficiente e novos processos e tecnologias que reduzam o impacto ambiental integram a receita de sucesso, na qual o Brasil pode ter posição de destaque com o incentivo dessa nova política industrial.