Sob a orientação ideológica e equivocada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a diplomacia brasileira voltou a afrontar a realidade e o bom senso na última quarta-feira ao divulgar nota de apoio à ação apresentada pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça. O governo sul-africano pede que o tribunal declare que Israel violou, no conflito contra o grupo terrorista Hamas, obrigações previstas na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio. Poucos países no mundo têm enfoque semelhante sobre a reação israelense ao maior ataque ao povo judeu desde o Holocausto.
No que se refere ao Brasil, é lamentável que o Itamaraty se veja constrangido a adotar um posicionamento demagógico que contraria os princípios tradicionais de equilíbrio e moderação da política externa brasileira. Infelizmente, não é a primeira vez que o presidente da República interfere de maneira desastrada em questões que deveriam ficar restritas à diplomacia.
Foi assim na sua manifestação sobre a invasão da Rússia à Ucrânia, quando sugeriu que o país agredido deveria ceder algum território ao invasor como forma de acabar com o conflito. Foi assim na sua inacreditável defesa do autocrata Nicolás Maduro durante a reunião de cúpula dos países da América do Sul, em maio de 2023, ocasião em que afirmou haver preconceito contra a política venezuelana. Por conta disso, foi acusado pelos presidentes do Uruguai, o conservador Lacalle Pou, e do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, de fazer vistas grossas às violações dos direitos humanos na Venezuela.
A visão ambígua do presidente brasileiro sobre questões externas mais complexas vem comprometendo a imagem do Brasil como protagonista do multilateralismo
A visão ambígua do presidente brasileiro sobre questões externas mais complexas, quase sempre contaminada pelo antiamericanismo infatojuvenil de seus correligionários mais radicais, vem comprometendo a imagem do Brasil como protagonista do multilateralismo. Sua inaptidão para compreender a natureza dos conflitos geopolíticos mundiais fica visível em cada participação em eventos internacionais. Tanto que durante a cúpula ambiental em Paris, no ano passado, o jornal Liberation – reconhecido como progressista – classificou o brasileiro como “um falso amigo do Ocidente”.
O personalismo de Lula e sua já extensa coleção de gafes no Exterior deixam a impressão de que o atual governo não tem uma visão estratégica de enfrentamento dos desafios globais. Sobram manifestações ideológicas e lugares comuns, mas falta uma política externa consistente, que represente o país na sua totalidade e não apenas a visão confusa de quem eventualmente ocupa o poder.
Nesse contexto, o precipitado apoio do governo brasileiro à descabida ação sul-africana contra Israel desconsidera o fato de os terroristas do Hamas estarem transformando civis palestinos em escudos humanos, com o propósito deliberado de usar as mortes de inocentes para manipular a opinião pública mundial. É evidente a intenção de inverter a realidade por parte dos agressores que desencadearam o atual conflito ao invadir o território israelense e cometer atrocidades inomináveis, que, agora, são estrategicamente ignoradas por criminosos travestidos de vítimas e seus insensatos apoiadores.