Por Fernanda Estivallet Ritter, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
Está terminando mais um mês, e a dona Antônia só pensa no dia em que receberá seu salário e no malabarismo que fará para pagar todas as contas: água, luz, aluguel, alimentação, parcela de dívida. Há alguns meses, é necessário escolher qual delas será paga, pois o valor do salário não aumenta, enquanto o preço dos produtos no mercado não para de subir.
Antônia, que é a provedora de sua casa, não está satisfeita com a educação de seu filho na escola pública em que está matriculado, nem mesmo com o tempo de espera toda vez que precisa de uma consulta médica no SUS.
Mal sabe a nossa personagem que os impostos que está sendo obrigada a pagar sustentam uma máquina pública inchada e ineficiente
Quando engravidou, Antônia foi realocada por exercer uma função insalubre e teve que ficar afastada por meses em razão de sua licença-maternidade. Na época, seu então marido estava desempregado e poderia cuidar do filho do casal, mas Antônia não tinha como abrir mão da licença-maternidade, pois a legislação trabalhista a obriga a se afastar do emprego. Ao retornar ao trabalho, a então funcionária exemplar perdeu espaço e não voltou a crescer na carreira.
Antônia não entende o que é taxa de inflação, não se interessa em saber quem é o presidente do Banco Central. Ela quer dar comida para seu filho. Quer que ele não entre no mundo das drogas. Quer chegar viva em casa após horas no transporte público para ir ao trabalho.
Seu salário chega com muitos descontos com siglas cujo significado ela não faz ideia, apenas percebe que o valor que entra na conta é muito inferior ao tal salário bruto. Antônia não está satisfeita com os serviços dito públicos que recebe, porém, não tem opção. O desconto dos impostos é na fonte, não há escapatória.
Mal sabe a nossa personagem que os impostos que está sendo obrigada a pagar sustentam uma máquina pública inchada e ineficiente.
A situação da Antônia não é um caso isolado. Trata-se do “Estado-babá”. Sob a prerrogativa de que o indivíduo não tem capacidade para tomar as melhores escolhas para si, o Estado interfere na vida do cidadão. Para piorar, as pessoas querem cada vez mais benesses e alegremente entregam o comando de suas vidas ao Estado. Eis então que a mentalidade assistencialista persevera.
O cidadão de um Estado assistencialista é ensinado a questionar: “Quais são os meus direitos? O que mais eu posso receber?”. É preciso mudar essa mentalidade e mostrar para as pessoas que a maior benesse de sua vida será sempre a sua liberdade.