Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
Eis que surge mais uma sigla na sopa de letrinhas do mundo corporativo. O ESG está em quase todas as publicações que tratam de temas de gestão de empresas e começa a aparecer no dia a dia da mídia em geral. ESG é uma sigla em inglês, em português seria ASG, que representa as estratégias e as práticas das empresas no que diz respeito ao ambiente, às pessoas e à governança. Mais do que isso, a ideia é promover as boas práticas nessas áreas de forma a tornar as empresas sustentáveis no longo prazo.
Mas vamos por partes. O conceito é do âmbito da sustentabilidade, entendida nas suas três dimensões: econômica, social e ambiental. O ESG foi o termo adotado pelo mercado financeiro para se referir à sustentabilidade corporativa, e surgiu em 2004 na publicação Who Cares Wins, do Pacto Global da ONU. Hoje o ESG é um tema crítico para investidores e empresas, e quem se destaca nessas três dimensões tem mais chances de atrair investimentos.
O ESG é uma jornada das empresas em direção a sua sobrevivên-cia
E é talvez por isso que exista uma espécie de urgência em querer mostrar indicadores positivos e, assim, conquistar clientes. Uma pesquisa realizada pela Harris Poll para o Google Cloud, em 2022, revelou que algumas empresas estão mais preocupadas em parecer sustentáveis do que em adotar medidas efetivas. Cerca de 66% dos líderes empresariais questionam a sinceridade dos esforços das empresas em relação à sustentabilidade, enquanto 58% admitem que praticam o chamado greenwashing, ou seja, promovem uma imagem de sustentabilidade enganosa. Pesquisa Amcham em 2023 mostra que, enquanto 30% das empresas reportam avanços significativos em relação às metas de sustentabilidade do Pacto Global, 47% se declaram uma referência em ESG. A mesma pesquisa mostra que a motivação de 61% das empresas em adotar práticas ESG é melhorar sua reputação, enquanto apenas 40% querem reduzir riscos sociais, ambientais e de governança.
Ou seja, além de haver uma desconexão entre o discurso e a ação, o ESG está sendo visto somente como um objetivo para conquistar mercado, e não como uma parte da cultura empresarial, como deveria.
É preciso entender que o ESG é uma jornada de conhecimento e evolução das empresas em direção a sua sobrevivência, sim, mas que passa pela sobrevivência das pessoas e do ambiente natural. É urgente assimilar que ESG é uma cultura de sustentabilidade, e não uma meta a ser atingida. Sem esses elementos, o ESG permanece no campo das promessas vazias e, na melhor hipótese, das boas intenções. E pior: sem resultados efetivos para ninguém.