Por Débora Pradella, gerente de produto e experiência digital no Grupo RBS, membro do Conselho Editorial da RBS
Abordar temas importantes e complexos e ser capaz de torná-los interessantes para o público sempre foi um desafio para o jornalismo. Na última reunião do Conselho Editorial, nós voltamos a esta questão: como encontrar a melhor forma de atrair a atenção da sociedade para assuntos relevantes como educação e desenvolvimento do RS?
Em nossa reflexão coletiva, dois pontos se repetiram em diversas falas:
1) Não falamos com uma massa homogênea de pessoas. Nosso público é formado por indivíduos e comunidades que possuem interesses, conhecimentos e realidades diferentes entre si e também em relação a nós, jornalistas. Entender isso é essencial para destrincharmos temas complicados de acordo com as necessidades de quem nos consome, sempre com um olhar de fora para dentro.
2) Assuntos grandes e complexos se tornam intangíveis para o público. Por isso é necessário foco em perspectivas e abordagens que mexam com o dia a dia da população. Conectar a pauta com a vida das pessoas e traduzir como impacta suas rotinas e seus anseios. E esta conexão só é possível com proximidade, diálogo, escuta e compreensão do nosso público.
Temos que ser cada vez melhores em ouvir, entender o que as comunidades querem antes de começar a apurar nossas reportagens
Temos um exemplo dentro da RBS. Referência na Rádio Gaúcha, na RBSTV e em Zero Hora e líder de audiência com sua coluna em GZH, a Giane Guerra é um modelo de conexão com seu público. É na troca diária com leitores e ouvintes que ela constrói seus conteúdos e define o tratamento que dará para um tema tão desafiador como economia, conectando o assunto com o dia a dia das pessoas. “É preciso ter o sentimento de barriga no balcão. A minha prioridade é atender o público e olhar o que ele está dizendo. Ler um e-mail de ouvinte ou leitor é mais importante para mim do que qualquer release, qualquer mensagem do meu chefe ou de uma fonte. Eu olho as redes sociais, eu paro para conversar com as pessoas nas ruas, eu reservo sempre uma hora depois de eventos para ouvir o público”.
O jornalista e escritor Jeff Jarvis, especialista e estudioso sobre as transformações do jornalismo, reforça que devemos parar de tratar o público como se fosse uma massa, uma multidão, e reconhecer a individualidade das pessoas e de suas comunidades: “A maneira como o jornalismo vai servir ao público depende do que o público precisa”. Temos que ser cada vez melhores em ouvir, entender o que as comunidades querem antes de começar a apurar nossas reportagens. Só assim seremos capazes de conectar temas complexos com o interesse das pessoas.