Por Fábio Bernardi, sócio-diretor da HOC
Peter Blake, artista que fez a capa de disco mais famosa de todos os tempos, a do Sgt. Pepper’s, dos Beatles, recebeu 250 libras pela sua criação. Anos depois, só o esboço da capa foi vendido por 55 mil libras em um leilão. A fórmula da Coca-Cola foi vendida por US$ 1.750 depois de ter dado prejuízo no primeiro ano de operação. O designer que fez o logo da Nike recebeu US$ 35 de pagamento. Quanto vale hoje? E eu poderia citar centenas de casos como esses para mostrar como é difícil precificar uma ideia quando ela ainda está mais perto da gênese do que da história.
Quando a gente espreme a burocracia, as reuniões intermináveis, os processos, os medos, as inseguranças e até mesmo o balanço financeiro, é a boa ideia que sobra
Mas, queira ou não, é disso que se vive na indústria criativa: saber valorar as ideias na gênese. Reconhecer quando estamos diante de uma grande e transformadora ideia, daquelas que irão mudar o rumo de um negócio, o ciclo de um produto, o share de um mercado ou a vida de uma empresa, e saber quanto e como cobrar por ela. Não é fácil, porque nesta equação há dois valores que deveriam ser umbilicalmente ligados: o tamanho do resultado da ideia para quem compra e o tamanho do resultado da ideia para quem vende. Porque, como diria meu amigo Dado Schneider, qualidade e preço são o smoking e o convite do baile de gala, mas não garantem que você vai beijar alguém. É a ideia que faz isso. E é por isso que nada supera a força de uma boa ideia. Quando a gente espreme a burocracia, as reuniões intermináveis, os processos, os medos, as inseguranças e até mesmo o balanço financeiro, é a boa ideia que sobra. Porque você pode comprar uma página neste jornal, pode pagar por espaço na TV ou contratar um influenciador na internet, mas não consegue comprar o tempo e a atenção das pessoas, mesmo com a maior verba do mundo. Isso só uma boa ideia faz.
Vivemos uma conjunção de crises econômica, política e social. A emergência climática é realidade inadiável. A geopolítica mundial se altera em ritmo acelerado. E estamos diante de mais uma mudança de era com a chegada da inteligência artificial. Para enfrentar tudo isso, eu espero que você tenha um lugar especial para a criatividade. É ela que move os negócios, que inspira, puxa para cima e para frente a sua empresa, a sua equipe, a vida e o mundo. E o melhor é que quem paga mesmo por uma grande ideia é o seu concorrente, em espaço no mercado e em lembrança do consumidor. Porque, por mais que você pague, uma grande ideia não tem preço.