É responsável a atitude do governo gaúcho de admitir a necessidade de criar um sistema mais robusto de monitoramento de riscos de eventos climáticos extremos, aperfeiçoando ainda formas de alertar a população diante da possibilidade de desastres naturais. Questionável seria insistir em uma posição de que tragédias como a recente no Vale do Taquari seriam de difícil antecipação, a partir de um volume de chuva inesperado. O próprio governador Eduardo Leite chegou a afirmar, de maneira incorreta, que não houve previsão meteorológica de precipitações que chegassem a até 300 milímetros em algumas regiões gaúchas.
É inevitável que novos temporais violentos voltem a castigar o Rio Grande do Sul nas próximas semanas, meses ou anos
Catástrofes também deixam lições. Oferecem um duro aprendizado, que deve servir para tentar evitar ao máximo a repetição de episódios semelhantes no futuro. A grande referência em termos de avisos na área hoje no Brasil é o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Foi criado em 2011, após uma chuvarada que causou mais de 900 mortes na região serrana do Rio de Janeiro. A vizinha Santa Catarina buscou o mesmo caminho, depois uma série de inundações e deslizamentos mortais. Reportagem de Felipe Samuel publicada na sexta-feira em Zero Hora indica que um dos modelos estudados pelo governo gaúcho é o AlertaBlu, de Blumenau (SC), também instituído após uma tragédia climática. Por aqui, anuncia-se a intenção de formar um centro de gestão integrada de riscos e desastres, somando-se a estruturas existentes, como a Sala de Situação.
Casos recentes, não apenas no Rio Grande do Sul, mas no Brasil e em todo o mundo, indicam que não é previdente confiar unicamente no histórico de uma região para imaginar que um evento climático não terá uma magnitude poucas vezes vista ou inédita, com grande capacidade de destruição. O aquecimento global, pontualmente potencializado por fenômenos como o El Niño, indica ser perigoso agarrar-se a padrões. Cientistas têm se cansado de avisar que os acontecimentos ligados ao tempo tendem a ser mais violentos e frequentes. As enxurradas estão entre as principais preocupações.
É positivo, portanto, conhecer centros de previsão, monitoramento e alerta instalados em outros lugares do país, discutir o tema com especialistas, universidades e pesquisadores de desastres naturais, na busca por criar no Rio Grande do Sul um sistema mais apurado e com coleta pulverizada de dados, que permita detectar rapidamente inclusive o risco de elevações repentinas de rios. Comunicar com agilidade as comunidades que podem ser atingidas é vital. Essas populações, como parte do planejamento, devem confiar nos alertas e saber exatamente como proceder. Não há como não ser repetitivo: uma Defesa Civil equipada e treinada é peça fundamental. Em Blumenau, o órgão passou a ter o status de secretaria. É um trabalho, afinal, que não se resume a períodos críticos. Pelo contrário, são tarefas contínuas voltadas a minimizar danos quando novos eventos extremos vierem a acontecer. São válidas também outras iniciativas anunciadas pelo Estado, como a contratação do uso das informações de um novo satélite meteorológico e a ampliação das áreas acompanhadas pelo Serviço Geológico do Brasil.
A tragédia do Vale do Taquari arrasou cidades e deixou, até agora, 49 vítimas fatais. Em junho, a enxurrada no Litoral e no Vale do Sinos matou 16 pessoas. Em julho, houve outras duas mortes após a passagem de mais um ciclone extratropical. É inevitável que novos temporais violentos voltem a castigar o Rio Grande do Sul nas próximas semanas, meses ou anos. Secas severas, também. O papel do poder público é ser previdente para minorar estragos e reduzir o perigo à vida.