O país ainda aguarda as explicações sobre a causa do apagão de terça-feira pela manhã que atingiu 25 Estados e o Distrito Federal. O que se sabe até agora, conforme o governo federal, é que teria sido o resultado de dois eventos concomitantes. Um deles, uma sobrecarga em linhas de transmissão no Ceará. Sobre o outro, não há certeza de local ou natureza.
Não se deve desviar de uma investigação puramente técnica, seja em qual seara for
Em episódios anteriores de apagão, em regra as razões foram descobertas e divulgadas poucas horas após o ocorrido, ressaltou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo o engenheiro Luiz Eduardo Barata, ex-secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia e ex-diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Chama atenção, portanto, a demora para detectar o que ocorreu e prestar os devidos esclarecimentos.
A busca pela elucidação deve ser guiada por critérios puramente técnicos, respeitando o histórico dos diversos órgãos e agências vinculados ao setor elétrico do Brasil. Buscar politizar o tema é um caminho equivocado e perigoso. Foi imprudente, por exemplo, a primeira-dama do país, Rosângela da Silva, ao insinuar em postagem em rede social que o apagão poderia ser consequência da privatização da Eletrobras. O Brasil, afinal, passou por inúmeros episódios semelhantes no período em que a empresa era estatal. A companhia, aliás, tinha como um dos grandes gargalos a incapacidade financeira para realizar os investimentos necessários para robustecer o sistema elétrico nacional.
A entrevista coletiva do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na terça-feira à tarde, além de pouco esclarecedora, de certa forma também sugeriu a possibilidade de algum vínculo do corte de fornecimento de energia com a desestatização. Silveira deu ainda margem a interpretações de que alguma sabotagem poderia estar por trás do apagão. Depois, admitiu que não existia nenhum indício concreto neste sentido. Ontem, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que a causa seria um erro ou falha técnica, retirando a ênfase em uma possível origem dolosa.
Por óbvio, não se deve, de largada, descartar qualquer hipótese. O Ministério da Justiça pediu à Polícia Federal uma apuração preliminar para averiguar se haveria elementos para a instauração de um inquérito. Mas, como dito antes, não se deve desviar de uma investigação puramente técnica, seja em qual seara for.
É importante deixar claro que não há, neste momento, nenhum problema estrutural de geração, transmissão ou distribuição. Mesmo assim, tem grande relevância conhecer as causas do episódio. Pode ter sido um erro humano, mas também alguma falha de sistemas ou de equipamentos. Fragilidades têm de ser conhecidas para serem sanadas. Desta forma, amplia-se a confiabilidade do sistema. O setor elétrico tem grande complexidade. Assim, melhor seria também se o caso fosse tratado com abordagem mais técnica e menos política, inclusive nas manifestações públicas sobre as causas.