Por Mauricio Harger, diretor-geral da CMPC Brasil
Você já ouviu falar em green bonds? São os chamados títulos verdes: papéis que representam parte das dívidas das empresas no mercado de ações. Como outros títulos, eles pagam juros aos investidores. O diferencial é que os green bonds convertem esse passivo em financiamentos para práticas ESG. Ou seja, alavancam projetos que beneficiam a sociedade e o planeta. Esse é um mercado que vem crescendo de forma vertiginosa. Só a Nint, consultoria brasileira que atua no mercado global de ESG, registrou R$ 54 bilhões em operações de green bonds em 2022.
A novidade é que, recentemente, a União Europeia definiu novos parâmetros para a aplicação dos títulos verdes. É a primeira vez que um país ou bloco de nações faz isso. O alinhamento regulatório destaca as atividades econômicas que os europeus consideram, de fato, sustentáveis. Com isso, de um lado, as empresas poderão comprovar que estão usando seus green bonds para financiar projetos verdadeiramente alinhados à política de ESG. De outro, os investidores terão indicadores mais confiáveis para saber se estão colocando dinheiro em projetos sólidos. É o clássico ganha-ganha.
Um dos principais trunfos dos “green bonds” é a sua capacidade de tornar o ESG mais palpável
As normas ainda vão demorar um pouco para entrar em vigor, precisam ser aprovadas pelo Parlamento Europeu. Sua adoção será voluntária. Porém, é possível perceber que, com o passar do tempo, o próprio mercado deverá legitimar essas práticas, à medida que títulos verdadeiramente comprometidos com a ideia de sustentabilidade terão taxas mais atrativas.
Um dos principais trunfos dos green bonds é a sua capacidade de tornar o ESG mais palpável. O setor industrial é o motor desse processo, traduzindo os títulos verdes em ações que beneficiam o balanço de carbono. A partir de uma gestão coerente e de projetos robustos, a indústria pode se tornar o principal indutor de uma sustentabilidade que anda ao lado do resultado financeiro. É assim que o ESG irá se consolidar como um combustível limpo para a própria economia.
O modelo europeu dos green bonds surge para trazer maturidade a esse fluxo. Trata-se, inclusive, de um antídoto ao greenwashing. As pretensas ações de ESG que só servem para gerar mídia estão com os dias contados. Irão literalmente perder valor. Isso é ótimo tanto para as empresas quanto para a saúde e o bem-estar do planeta.